Sinclitismo
Pronome é a palavra
que substitui (ou pode substituir) o nome. Segundo a classificação, o pronome
pode ser pessoal, demonstrativo, possessivo, indefinido,
relativo e interrogativo.
O pronome de tratamento é um pronome pessoal, que é a palavra ou expressão que
substitui a terceira pessoa gramatical. Interessa-nos, neste momento, o pronome
pessoal, que se define como sendo a palavra que, além de substituir o nome,
põe-no em relação a uma pessoa gramatical. O pronome pessoal pode ser, a
depender da função sintática que exerce¸ do caso reto ou do caso oblíquo. Os
pronomes pessoais do caso reto têm função subjetiva, isto é, têm a função de
sujeito. São pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele/ela, nós, vós e eles/elas.
Os pronomes pessoais do caso oblíquo têm a função de complemento verbal. Os
oblíquos podem, segundo a acentuação própria, ser classificados em tônicos e átonos
(não se deve confundir acento tônico com acento gráfico; o primeiro diz
respeito à sílaba que é pronunciada com maior força; o segundo, à representação
gráfica da sílaba tônica, ex.: casa é uma palavra tônica, ou seja, ela é
acentuada, ela possui acento tônico, localizado na penúltima sílaba; todavia, o
acento tônico não é representado pelo acento gráfico; lápis, por sua vez, tem
acento tônico, localizado também na penúltima sílaba, representado por um
acento gráfico).Toda a palavra átona, ou seja, que não possui acentuação
própria, não possui autonomia prosódica. Os pronomes oblíquos átonos não
possuem, portanto, autonomia prosódica. Logo, devem vir apoiados no acento do
verbo. Como regra geral, tem-se a posposição do oblíquo ao verbo, isto é, os
pronomes devem ser enclíticos. As exceções levam às construções proclíticas e mesoclíticas.
Há casos em que o verbo perde sua força enclítica, o que faz o pronome ser
deslocado para antes do verbo (próclise) ou para o meio dele (mesóclise). Em
particular, é interessante como se vê - inclusive em autores consagrados - uma
comuníssima, mas errada, colocação do oblíquo: solto entre dois verbos. Ora, se
os oblíquos átonos não têm autonomia prosódica, como dissemos no início, não
podem vir soltos entre dois verbos, obrigando-os a apoiarem-se no acento de um
dos verbos. Destarte, construções como estas são erradas: «está se formando»,
«vim lhe dizer», «foi me entregar», «tinha se esgotado» etc... Corretamente, escreve-se
assim: «está-se formando», «vim-lhe dizer», «foi-me entregar», «mandou-te entregar»,
«foi-me contando», «tinha-se esgotado»... Exemplos que devem ser seguidos: «Vi-lhe
fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, ...» (Machado de Assis, Dom Casmurro),
«... e redarguiu-lhe sorrindo que não tivesse medo.» (Machado de Assis, O
Alienista), «... não pode deixar de ter-se desvanecido, ...» (Joaquim Nabuco, A
República é incontestável), «... para conseguir fazer-se ouvir da velha ...»
(Júlio Ribeiro, A Carne), «E o facies daquele sertão inóspito vai-se esboçando,
lenta e impressionadoramente...»(Euclides da Cunha, Os Sertões), «Ela se
abaixava, deixava-se pegar, ...» (Fernando Sabino, O Encontro Marcado)... Exemplos,
pois, que não devem ser seguidos: «saber exatamente o que estava se passando em
seu país e no resto do mundo» (Paulo Coelho, A Bruxa de Portobello), «Você faz
parte, mas não vou lhe contar como, não tem importância.» (João Ubaldo Ribeiro,
A Casa dos Budas Ditosos), «Já vem ele ali, Juca, foi se despedir da
namorada...» (João Guimarães Rosa, Sagarana), «São momentos em que a
"máquina da vida" parece se explicar...» (Arnaldo Jabor, Amor é
prosa, sexo é poesia), «No jogo de capoeira de Angola ninguém pode se medir...»
(Jorge Amado, Capitães de Areia)...