«Tô com saudade de tu, meu desejo» (da música «Gostoso demais»). Apesar da liberdade poética, esta construção de tu é repugnante aos ouvidos.Tolera-se até o tô (em lugar de estou...), mas o pronome pessoal do caso reto eu ou tu vir regido por preposição? Não, definitivamente, não está correto! Quem diz que está com saudade de tu não sabe o que é saudade ou não tem saudade de ninguém... O correto é dizer estou com saudade de ti, porque os oblíquos, todos, sim, podem vir regidos por preposição. Da mesma forma, não se pode dizer «entre eu e ela», mas «entre mim e ela (os pronomes retos ele, nós e vós podem funcionar como regimes de preposição), «entre mim e ti», «entre ti e mim», «entre ela e mim», «entre ti e ela», «entre nós e eles»... Por este motivo, também, que se não pode dizer «esta cama é para eu», porquanto eu não pode ser regime de preposição; diz-se, então, «esta cama é para mim». Se houver um verbo no infinitivo após o pronome, o verbo é que passa a ser o regime da preposição; o pronome funciona como sujeito do infinitivo, razão pela qual somente pode vir no caso reto. Deve-se, pois, dizer «esta cama é para eu dormir» - nunca «para mim dormir», porque o oblíquo mim não pode ter função subjetiva.
E por falar em sujeito do infinitivo... Às vezes, somos surpreendidos com afirmações como esta: «vi ela sorrir». Na regra geral, os pronomes pessoais do caso reto têm sempre a função de sujeito; os do caso oblíquo têm função de complemento do verbo. Entretanto, há casos em que o pronome oblíquo desempenha a função de sujeito. Em orações em que entram os verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver, e que tenham como objeto outro verbo no infinitivo, os oblíquos são sujeitos do verbo no infinitivo - quando são denominados sujeitos acusativos. Como um pronome reto nunca, sem exceção, pode ser complemento de um verbo, a construção «vi ela sorrir» é incorreta, porque ela sorrir é complemento do verbo ver - ela é sujeito do verbo sorrir, que, por sua vez, é complemento do verbo ver. Então, deve-se assim dizer: «viu-a sorrir». Outros exemplos: «deixei-o jogar primeiro», «fi-la devolver o casaco», «mandei-os construir a casa», «ouviu-a cantar», «sentia-a aproximar», «viram-no escapar pela janela»...