quinta-feira, 30 de julho de 2009

Soneto 3 - Herbert Haeckel

Soneto 3
(Herbert Haeckel)

Entrelaçam-se então os corpos na paixão
Indômita, em perfeito e simétrico vínculo,
Que unidos de tal forma, impedem a visão
Embotada da luz escassa... E o mui longo ósculo,

De indócil erotismo e de sofreguidão,
Clamando esta junção, à espera do pináculo -
Indescritível senso e tórrida emoção -
Em que se esvaem corpo e alma ao vir o crepúsculo...

Da carnal ligação, os corpos inconsúteis,
Buscam, ao derredor, mui trêmulos, exaustos,
Em um suspiro lasso, o ânimo sequioso

Do sensual amor... Baldadas as inúteis
Tréguas, os corpos hão, em mil desejos faustos,
De dar-se, loucamente, ao amor obsequioso!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Soneto 2 - Herbert Haeckel


Soneto 2
(Herbert Haeckel)

 
Arde em meu peito uma paixão pungente,
Que despedaça, fere, dilacera
A alma inquieta e o coração lugente,
E os dias meus sega, como uma fera...

É um sofrer tal que, de amor querente,
Desvanece a inveraz, falsa quimera,
E cega a visão, co'a adaga inclemente,
De quem, em vão, algum amor espera... 

Este amor fugidiço, 'inda intangível,
Disperde-me em antínoma vontade,
De adorar-te ou de ter-te em conjunção...

Mas como pode então ser compreensível,
Ter alguém a outro o amor, se na verdade
O amor que tem por si é só ilusão?

domingo, 26 de julho de 2009

Não se Apague esta Noite - Flávio Venturini

Não se Apague esta Noite - Flávio Venturini

1 - Mantra da Criação
2 - Recomeçar
3 - Noites com Sol - part. esp. de Marina Machado
4 - Não se Apague esta Noite
5 - O Melhor do Amor

6 - Pierrot - part. esp. de Mart'Nália
7 - Romance - part. esp. de Cláudio Venturini
8 - Minha Estrela
9 - Beija Flor - part. esp. de Luíza Possi
10 - Criaturas da Noite
11 - Verão nos Andes
12 - No Trem do Amor
13 - Morro Branco
14 - Música



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Este Blog possui estritamente caráter cultural. Nosso propósito é, tão-somente, divulgar a cultura. Aqui não se hospedam arquivos de música ou quaisquer outros, e os links têm prazo de validade limitado.
Ao baixar arquivos, apague-os no prazo de 24h. Acaso goste do que ouviu, adquira o álbum em lojas especializadas.

Uma Canção no Rádio - Fagner

Uma Canção no Rádio - Fagner

1 - Muito Amor
2 - Regra do Amor
3 - Sonetos
4 - Uma Canção no Rádio (Filme Antigo) - part. esp. de Zeca Baleiro
5 - Martelo - part. esp. de Gabriel o Pensador

6 - Me Dá Meu Coração
7 - Flor do Mamulengo
8 - Farinha de Comer
9 - Amor Infinito
10 - A Voz do Silêncio


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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Instabilidade das Coisas - Gregório de Matos


Instabilidade das Coisas
(Gregório de Matos)

Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na luz, falte a firmeza,
Na formosura não dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na incostância.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Soneto 1 (Ocaso...) - Herbert Haeckel


Soneto 1 (Ocaso...)
(Herbert Haeckel)


Cândidos raios da manhã velada,
Na inocência da aurora radiosíssima,
Cobrem a verde relva 'inda orvalhada,
E traduzem imagem ameníssima.

Alvissaram os raios da alvorada
Bela infância de um dia. Sereníssima
Noite, então resoluta a madrugada,
Despede-se, com ver a luz alvíssima.

No luzir dos meus dias, muitos sonhos,
Que o coração povoam de risonhos
Lírios, vêm e lhes abrem os umbrais,

Como as manhãs abre a lumínea aurora.
Os dias voltam com o sol que aflora...
E a infância, já perdida, nunca mais!
 

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Soneto 4 (...-81) - Luís de Camões

Soneto 4 (...-81)
(Luís de Camões)

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode o seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Uauá - Herbert Haeckel


Uauá
(Herbert Haeckel)


Pirilampo, lampiri, cudelume,
Lampíride, lampírio e noctiluz,
Por todos conhecido: vaga-lume...
Coleópteros com perfeita luz,

Cortam a escura noite com seu lume,
Num bailar aprazível que seduz...
Pictórica visão, ígnea, alta, incólume,
Que na fausta retina, pois, reluz!

Lampiríneos, lampíridas, lampróceros...
Luminescentes, bem traduzem, próceros,
Beleza que, em poucos lugares, há.

Guilherme Costa o luso também viu...
E o vaga-lume, com primor, luziu:
Eis então a cidade de Uauá!


São João - Herbert Haeckel


São João
(Herbert Haeckel)



«Vem ver São João»!... Do alto, ali clamou Barbosa,
Que, de Vicente herdando a bela arte, cantou
Uauá, com tal paixão que tanto lhe é garbosa,
Que Santo Antônio até mesmo lhe perdoou!

E com fogos e fé, a Alvorada brilhosa
É tradição que o tempo ainda não embotou;
E ao Santo Protetor anuncia raiosa
Festa, que a São João o povo dedicou.

Há muitos anos, há louvor e muita festa,
E a lembrança fiel, nítida, 'inda nos resta:
De Chico, Vicente, Auto, Anísio e de Arlindão...

E no célico palco etéreo, eles lá cantam
O amor à terra amada, e felizes recantam:
«A alegria de Uauá 'tá em meu coração»!


Aos Afetos, e Lágrimas Derramadas... - Gregório de Matos


Aos Afetos, e Lágrimas Derramadas na Ausência da Dama a Quem Queria Bem
(Gregório de Matos)

Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:

tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal, em chamas derretido.

Se és fogo, como passas brandamente,
se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.

Falseado - Herbert Haeckel


Falseado
(Herbert Haeckel)


Rui o sonho enodoado, ao vir a noite fria...
Vai-se, com ele, mais um outro sonho vão.
O rosto triste, já cansado, já sofria,
Vendo, sem horizonte, a alma perder-se então.

O beijo amaro urdia o golpe que daria
No espúrio, de consorte havido, pai poltrão.
E tal como Tristão sem Isolda faria,
Ter com a branca, seu envoltório e galão.

Desprezando o labéu, deram-lhe a tal resposta,
Vestíbulo do que hoje é, a cair até,
Do último devaneio, a finda burla aposta...

E o infausto, vil palreiro, adotou a veniaga:

Se na quinta furtou, na sexta também o é...
E não se desembarga, apenas se embriaga... 

 

terça-feira, 14 de julho de 2009

Natura - Herbert Haeckel


Natura
(Herbert Haeckel)


Bela mulher, teomorfa na feição,
És transcendentalíssima pintura...
De atavios florais, és asserção
Da aprazível leveza da natura...

Povoas, docilmente, na ilusão
Dos mortais - com a singular candura
Das deusas nemorais - a sensação
De inefável, levíssima, ternura...

Escuto o canto mítico da Ninfa...
Da natura esplendíssima, da fonte
De encantos, de que emana esta alva linfa,

Envaidecendo-se das águas tépidas,
Banha-me a tez, a essência, e faz-me insonte,
E brinda-me com belas canções límpidas!


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Carminis V - Herbert Haeckel


Carminis V
(Herbert Haeckel)


Contemplo-te, venusta, bela Musa,
Idolatrada em sacrossanto altar!
Desvela-te a beleza, pois, abstrusa,
Que o coração consegues encantar...

E esta paixão, em meu peito profusa,
Toma o corpo e minh'alma, a me exultar...
E a alma já subjugada, já reclusa,
Deste amor que em mim é estreme extar...

Atento a amor tão nobre, dilatado,
Eu poemas direi ao Ser cativado,
Tenuíssimas frases em dejúrio...

E num ósculo ardente, revelar-te
O fervor que me abrasa, e então destarte
Fugir intato dum vivicombúrio!


Brisa - Herbert Haeckel


Brisa
(Herbert Haeckel)


No verde campo, sopra a viração
Primeira, a encetar-me este imenso viço...
É um envolver pleno de emoção,
O meu sofríbil coração cediço...

Esboroado, o velho coração,
Que de martírios, do lugar vindiço,
Abre-se, com uma íntima canção
Que traz o amor, este subtil feitiço...

Ingredo um viajor em campo ignoto,
Depérdito em passagens melancólicas,
Sou o que sou... E meu triste passado é roto!

Contemplo o duvidoso porvir - sei -,
Com belas sensações líricas, eólicas:
- Beija-me a face, brisa! - enfim roguei...


Alvarenga Peixoto

INÁCIO JOSÉ DE ALVARENGA PEIXOTO. Poeta e político brasileiro. Nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1744; morreu em Ambaca, Angola, em 1793. Preso por participar da Inconfidência Mineira, foi condenado à morte, tendo a sentença sido comutada para degredo perpétuo na África, onde morreu num presídio. Sua pequena obra, de temática amorosa, bem como de postura crítica com relação à sociedade da época, está incluída no Arcadismo, e apresenta alguns dos sonetos mais bem acabados do arcadismo brasileiro.

Estela e Nize

Eu vi a linda Estela, e namorado
Fiz logo o eterno voto de querê-la;
Mas vi depois a Nize, e a achei tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado.

A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, fico abrasado.

Mas, ah! que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros braços,
E esta não me quer por inconstante.

Vem, Cupido, soltar-me desses laços;
Ou faz de dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em dois pedaços!

1892 IV... - Herbert Haeckel


1892 IV...
(Herbert Haeckel)

De infausta natureza, insidiosa
Diátese a insultar... O que dizer?
Se co'a acridez vieste tu odiosa
Ultrajante serás até morrer...

Não me é ludíbrio se te fazes rosa;
Com acúleos, a rosa, a confranger,
Fere, incólume, a tez da mão zelosa,
Tal como feres tu a escarnecer!

Sevandija, fingida... És indolente,
Tens presteza, tão-só, quando detrais,
Mesmo de quem até te foi clemente!

E assim vais... Mas te não tarda a peedença:
És mãe agora - que infortúnio!-, mais
Fardos a desvelar-te abjeta crença!


domingo, 12 de julho de 2009

Carminis IV - Herbert Haeckel


Carminis IV
(Herbert Haeckel)


Causas-me decepção, Mulher amada,
Ao dizeres: «Não sou a inspiração
Para os teus versos!» Se tu estás em cada
Um deles, como pode a altercação?

Decerto, tu te encontras olvidada
Que a voz tua é dulcíssima canção...
E ao oscular-me, co'a boca carminada,
Hás de ocupar-me o peito de emoção!

Nenhures, similar amor ocorre,
Imenso, não se acaba, não se morre...
Mas a dor, que dói em mim, tal qual um látego,

Da descrença do amor que a ti revelo,
Impele-me indizível um anelo:
O de cantar o amor que em mim carrego!


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Carminis III - Herbert Haeckel

Carminis III
(Herbert Haeckel)

Diva de resplandor imensurável,
Que entre tantas no páramo de estrelas,
De tal encanto assim, inexorável,
És de todas a mais bela entre as belas!

Fulguras, Deusa amada, mui inefável,
Uma luminescência, que destrelas
O firmamento até inabalável,
Brilhando tu somente em lugar delas!

Quando perto de ti, morrem de inveja
Estrelas que povoam o celeste
Azul; uma a uma ao te mirar raiveja...

Conspicuamente, amar-te é uma dádiva.
E ao ouvires suplicar-te, maisquiseste
A mim que outros: enlevas-me alta Diva!

Carminis II - Herbert Haeckel


Carminis II
(Herbert Haeckel)


Que é o amor, senão, um espinho em flor?
Verbera, reverbera e que atormenta...
Lúgubre encantamento, fluido alor,
Que queima todo o corpo e a alma alimenta.


Que é o amor, senão, um pleno torpor?
Que, no mar da existência, é tormenta
E que impõe a quem ama um torvo algor,
A confranger crepuscular juventa...


É como ver, sem com os olhos ter,
A recôndita essência, cerne da alma...
Depérdito em quimera o coração,


Amante, foge, e assim supõe conter,
Presto, fugaz ímpeto e não se acalma,
Porque o amor, que tem, é imolação!


Carminis - Herbert Haeckel


Carminis
(Herbert Haeckel)



Da pétala orvalhada, escapa o fino olor
Deleitoso do amor que raia e já aflora...
Ouço o mágico som, vivo, de multicor,
Que sai de tua boca em determinada hora...

Sinto-me mais completo e forte no calor,
Calor que emana do teu abraço e que me alvora,
E irradia-me o ser de intenso e largo amor,
A tomar da paixão o lugar em que mora...

Dos beijos teus, retiro o ar que tanto respiro,
Beijo que inflama, queima, e que a viver me inspiro...
E ao amar-te,  mitigar o sofrer cruel vou,

E nos teus braços, hei de consolar-me à noite,
E a solidão delir - ah! este bárbaro açoite! -
Bem sabes tu, mulher, que sem ti nada sou!


 

1892 III... - Herbert Haeckel


1892 III...
(Herbert Haeckel)


- Cala-te! De onde vens, mal sucedido
Aborto, de imoral ventre nascido?
Se és infeliz, pelo amor ter perdido,
Culpa-te pelo mal então crescido...

De cotio ofenderes... E escondido
O nome, semeias ódio parecido
Ao que quando de a ti foi concedido
Vires ao mundo, ser imerecido!

Se a alguém resta 'inda só uma esperança
De ver-te em informal maternidade
Arrependida: malograda a fé!

Pois que te faltas é a temperança!
Pena causa-me a tua veleidade,
Um vaticínio de desdita até!


 

1892 II... - Herbert Haeckel

1892 II...
(Herbert Haeckel)

Na félea cólera do teu ser vil,
Nutre-se a mais repulsiva afeção.
De hábitos de cariz, pois, incivil,
Tu és uma emblemática abjeção!

Da putréia não te eximes, teu covil,
Que, amando-a, tem-la por predileção,
Se queres algo, fazes-te servil,
A buscares sem paga a repleção!

E quando tu tão logo assim puderes
Pisar naquele que a mão te ofertou,
Lépida o fazes, e com bel-prazer!

Ouve, então: se ainda teus rancores deres,
Terás a destra forte que matou,
Um a um, os vis anseios de maldizer!

1892... - Herbert Haeckel

1892...
(Herbert Haeckel)

Despe-te das tuas imundas vestes,
Que a mentira, esta indômita senhora,
O teu escudo imane - e não contestes! -
Cobriu, com manto, tua alma, que aflora

Mesquinhez, sordidez, pequenez... Estes
Atributos, que cabem em ti agora,
São vaticínio de que estás já prestes
A sucumbir ao inferno, sem demora...

E das trevas que tu semeias se faça
Profecia do termo de teu ser,
De aziaga vilanagem como fulcro...

Não te apresses: certa é tua desgraça!
E daqueles que, de ti, algum sofrer
Tiveram, o escarrar em teu sepulcro!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Antoine de Saint-Exupéry

ANTOINE-JEAN-BAPTISTE-MARIE-ROGER FOSCOLOMBE DE SAINT-EXUPÉRY. Escritor, ilustrador e piloto de aviões durante a Segunda Guerra Mundial. Nasceu em Lyon, França, em 29 de junho de 1900; faleceu em 31 de julho de 1944, no Mediterrâneo. Suas obras caracterizam-se por elementos como a guerra e a aviação. Em destaque, está o romance O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince), escrito durante o exílio nos Estados Unidos, quando teria feito visitas ao Recife, PE, e publicado em 1943.
Exupéry faleceu em sua última missão, em 1944, e seu corpo jamais foi encontrado. Somente em 2000, é que os destroços de seu avião foram encontrados. Antes, em 1998, acidentalmente, fora encontrada, na rede de um pescador, na mesma região em que o avião de Exupéry caiu, a pulseira, que usava no dia em que morreu, com as inscrições «SAINT-EX» e «CONSUELO», nome de sua mulher.


O Pequeno Príncipe
(excerto)

Mas aconteceu que o principezinho, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas na direção dos homens.
- Bom dia, disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia, disseram as rosas.
O principezinho contemplou-as. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? perguntou ele estupefato.
- Somos rosas, disseram as rosas.
- Ah! exclamou o principezinho. .
E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, igualzinhas, num só jardim !
«Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar do ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque se não, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade. . . »
Depois, refletiu ainda: «Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande. . .» E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa,
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste.
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer «cativar»?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho - Que quer dizer «cativar»?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem - Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer «cativar»?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa «criar laços».
- Criar laços?
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Começo a compreender, disse o principezinho.
Existe uma flor. . . eu creio que ela me cativou ...
É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra ...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom ! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo?
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste, Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo ...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, sentar-te-ás mais perto ...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração ... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso!
Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias !
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah ! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse ...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar ! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada !
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para dizer-me adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo.
Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de lembrar-se.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de lembrar-se.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de lembrar-se.

domingo, 5 de julho de 2009

Ruy Guerra


RUY ALEXANDRE GUERRA COELHO PEREIRA. Cineasta, produtor, ator e teatrólogo moçambicano. Nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique, em 22 de agosto de 1931. Radicado no Brasil desde 1958.


Soneto

O Meu coração tem um sereno jeito,
E as minhas mãos, um golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,

Desencontrado, eu mesmo me contesto...


Se trago as mãos distantes do meu peito,

É que há distância entre intenção e gesto;

E se meu coração nas mãos estreito,
Assombra-me a súbita impressão de incesto...

Quando me encontro no calor da luta,

Ostento a aguda empunhadura à proa,

Mas o meu peito se desabotoa...


E se a sentença se anuncia bruta,

Mais que depressa a mão, cega, a executa

Pois que, senão, o coração perdoa... 


Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.