quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Nem tudo que cai da goiabeira é goiaba
(Herbert Haeckel)

Clarisvalda do Espírito Santo abandonou o serviço público, em que mais desserviu do que serviu, e foi pregar a palavra de “God” - não vos espanteis, caríssimos leitores, mas ela anglicizava tudo!
Dizia-se messiânica - na verdade, “messianic”.
Convenhamos, não era ela muito bem querida na sociedade. Recebeu algumas pedras, inclusive de quem também havia pecado. Mas, quem sou eu para julgar?
Sua vida mudou, da água para o vinagre, quando vinha caminhando, depois de exaustiva pregação, tarde da noite, para sua casa, no Alto da Soledade.
Começou de sentir as entranhas dominarem seus sentidos. Uma dor terrível parecia cortar seu abdômen. A comida não lhe fizera muito bem.
Aproximou-se de uma goiabeira. Ouviu o chamado intestino. Seria ali mesmo. Mas, havia ainda transeuntes.
Outra vez a voz intestina manifestava-se, já com uma certa rebeldia, e dizia que subisse prontamente na goiabeira. Subiu, com uma destreza nunca antes vista. Aprumou-se num galho - que se envergou, em resposta ao sobrepeso, mas que não se rompeu. As dores pulsantes vinham cada vez mais fortes. Suava frio. Rezou. Torceu-se. Contorceu-se. Tanta era a dor que jura ter visto o Cão chupando manga no alto da goiabeira. Não suportou, por fim. De lá, despejou aquilo que lhe servira de mantimento outrora.
Todavia, nem tudo são flores. Alívio de um lado, desespero de outro. No exato momento em que a matéria fecal liquefeita obedecia aos desígnios da lei da gravidade, passava o clérigo Timóteo Avelino, portando sua recente tonsura.
Todo lambuzado, Timóteo, furibundo, perguntou, aos berros, quem estava no alto do pé de goiaba.
Um arrulhar desafinado ouviu-se. Clarisvalda tentava imitar um pombo. Não foi convincente.
Timóteo tornou a perguntar, já com ameaças, quem estava no alto da goiabeira.
Uma voz estilizada de criança foi, então, ouvida:
- É o bichinho da goiaba! Comi uma goiaba podre que me deu dor de barriga! - disse-lhe Clarisvalda.
Vendo que com enganos lhe era assim negada a verdade, Timóteo sacou um revólver e deu um tiro para o alto. Não atingiu ninguém.
Com o susto, Clarisvalda despencou da goiabeira. No chão, com as calçolas nos tornozelos e as saias amarradas acima do umbigo, ficou com as vergonhas ao vento.
Desde então, Clarisvalda, por força do ocorrido, virou “bichinho da goiaba podre”. Tentou continuar nas pregações. Não foi possível.
Depois que Felisberto Cupertino me narrou este acontecido, quem me conhece sabe que uma cautela carrego comigo: não passo debaixo de árvore sem antes averiguar se há ou não um esfíncter anal pronto para atacar!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Tal como uma luva
(Herbert Haeckel)

Costuma-se a associar o nome de algo ou uma característica às pessoas que se conhece. É quase instantâneo e natural. Talvez, seja uma forma mnemônica, para não olvidar o nome de alguém. Quão constrangedor é esquecer o nome de alguém!
Certa feita, vou-vos contar, encontrei-me com uma colega dos tempos primevos de escola. Ela lembrou-se de meu nome. E eu, do nome dela, não. No auge da palestra, ela perguntou-me, desconfiada, se eu me lembrava de seu nome. Disse-lhe que sim, a mentir. Perguntou-me qual era. Respondi-lhe, de chofre: não sei! Que vergonha...
Hoje, sempre que necessário, faço a aludida associação, para não ser, novamente, traído pelo olvido.
Alsuc Aranjuez possuía hábitos diferentes. Não era adepto das leituras. Logo cedo, conseguiu criar um subterfúgio para não frequentar a escola - introduzia um dente de alho entre uma nádega e outra, e ardia em febre; conclusão a que chegaram seus pais: a escola poderia ser mortal para Alsuc. Tiraram-no, pois, da escola.
Foi crescendo, acostumando-se a ter tudo nas mãos, sem esforço qualquer. Se se via contrariado, apelava para o alho! E haja antipirético!
Confidenciou-me Antero Farabeuf, esculápio que acompanhou o caso de Alsuc, ser um mistério para a medicina. Nada lhe disse. Ri.
Chegada a hora de começar a trabalhar, empregou-se na mercearia de Castorino Flores. Quando não estava com febre, passava quase que o dia todo deitado por sobre sacos de farinha. Castorino despediu-o no segundo mês. Durou até muito tempo!
Com muita luta - dos pais, obviamente - conseguiu Alsuc outro emprego: na farmácia de Ana Tolentino. Não passou de uma semana! Foi colocado para fora.
Havia uma coisa que Alsuc fazia muito bem, além de dormir: comer.
Ganhou peso. O joelho valgo evidenciou-se. Vivia a queixar-se das assaduras na região pudenda.
Para a sociedade, era imperativo transparecer que era um ser humano normal, trabalhador. Sem ter onde mais trabalhar, Alsuc teve a ideia de assessorar sua mãe, nas tarefas de casa, recebendo, para tanto, um salário capaz de cobrir suas despesas - como vos falei, era um legítimo glutão! Amava as guloseimas!
Um trabalho, digamos, não muito extenuante: acender os queimadores do fogão. Era-lhe, por sinal, agradável função, haja vista a piromania herdada da mãe.
Pois bem, amigos, como vos falei alhures, passei a associar, sempre que possível, algum atributo a certas pessoas... E toda a vez que ouço a palavra “inútil” lembro-me, instantaneamente, de Alsuc Aranjuez.
Cabe-lhe como uma luva!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Santa inocência
(Herbert Haeckel)

Há quem diga que não existem coincidências. Eu creio nelas piamente. 
Não gosto de misticismo. Nem de mitos!
Porém, estou convencido de que quando a fé não remove montanhas ela abre um túnel que as atravessa.
Acabei de almoçar e recebi a ligação de Judas Hermengardo.
Pensei nele dias atrás. Daí, a coincidência.
Conversa vai, conversa vem, e eu a impacientar-me com Hermengardo. Prezo muito o meu tempo. Quem me conhece sabe que não sou devotado a ficar mais do que dois minutos numa ligação telefônica. Telefone, entendo eu, é para um recado brevíssimo. Quereis conversar? Marcai um encontro!
Já estourado o meu tempo limite e iniciada a dormência no pavilhão auricular, perguntei-lhe o porquê da ligação.
- Eu cometi uma injustiça com a minha mulher - disse-me ele.
Nestas horas, por mais cauteloso e otimista que alguém possa ser, somente as desgraças é que vêm ao pensamento!
- Não me diga que vosmecê atentou contra a integridade física dela...
- Não! Jamais! Minha mulher é tudo para mim - falou-me, com uma certa candura, que até me comoveu...
Foi quando, admito, uma lágrima rolou-me à face. Quem não ficaria emocionado com tão singular declaração?
- Eu desconfiei que o meu filho não era meu filho. Pedi um exame de DNA.
Neste momento, confesso que gelei! Não, não, meus diletos leitores, não é o que vós estais a pensar! A minha reação foi em decorrência do que Calixto Fagundes soltou, no pileque que tomou na casa de Altino Belmonte, há uns dois anos.
Hermengardo mostrou-se profundamente amargurado por, segundo ele, ter duvidado, apesar de tudo, da esposa. Deu-me detalhes acerca do exame, após eu acionar o alto-falante do telemóvel para ouvir a conversa à distância.
Em resumo: no dia do exame, a mulher de Hermengardo sugeriu que seu primo, Calixto Fagundes, doasse o material para exame, uma vez que Hermengardo tinha um verdadeiro e incontrolável pavor por agulhas e assemelhados.
Hermengardo concordou, feliz, assim me disse ele, pela preocupação e zelo com que sua devotada e doutrinada esposa o tratava...
Assim que saiu o resultado, Hermengardo ligou-me. Pediu-me conselho, orientação para lidar com a situação.
- O filho é meu! Deu positivo! Como pude desconfiar dela? - disse-me Hermengardo, numa mistura de euforia e de preocupação.
Fiquei sem saber o que dizer.
Em seguida, falei-lhe que deveria pedir desculpas a ela - não lhe disse que o motivo das desculpas era por ser tão estulto!
Era o mínimo que eu poderia fazer.
E assim como Judas Hermengardo acredita que o filho é seu, há muitos descurados que ainda acreditam na honestidade do capitão...
E viva a santa inocência!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

De pai para filho
(Herbert Haeckel)

Depois de flagrar sua doutrinada esposa com outro no sofá da sala, Judas Hermengardo tomou duas providências, que, sob a sua caolha ótica, eram imperativas para, não sei bem se o termo correto seria este, evitar uma nova traição da estimada consorte: lançou o sofá no meio da rua, ateando-lhe fogo, e comprou um par de luvas de boxe - não, amigos leitores, não tinham as luvas por escopo serem utilizadas para bater na mulher, mas para evitar uma fratura na mão, acaso houvesse necessidade de esmurrar a parede, como de cotio!
Ah! Vede só como são as coisas: ia-me esquecendo de dizer, o mais importante quiçá, que Judas Hermengardo matriculou sua esposa num curso de corte e costura, no Centro de Educação para o Lar Helenita Serrão Madureira! Aulas noturnas. Eram mais em conta! Dar-lhe uma ocupação, para que, quem sabe, ela se esquecesse de pular o cercado.
Alguns meses depois, uns três, quero crer, Hermengardo liga-me, dizendo necessitar de um obséquio. Fui ao seu encontro.
Pediu-me que fosse à escola para verificar a frequência da esposa, uma vez que lhe foram mexericar que ela chegava a casa, à noite, depois da aula de corte e costura, todos os dias, em companhia de um homem, que a deixava na esquina, a uns cinquenta metros de sua porta.
Fui. Com ele ao lado.
Ao entregar-nos a lista de presença, a responsável pela escola disse-nos que nunca havia visto a esposa de Hermengardo. Nem poderia ter visto. Nunca foi às aulas...
Notei um certo desconforto em Judas Hermengardo.
- Ela não gosta de corte e costura. Eu deveria tê-la matriculado no curso de bordados! Ou de pintura! - disse ele, num indisfarçável constrangimento, muito embora eu acredite que de pintura aulas ela não necessite: já é experta em pintar o sete!
Em seguida, completou, sem que nada lhe houvesse sido perguntado:
- Minha avó Matilde traiu meu avô Jeremias... Ele é chifrudo igual ao meu pai.
Compreendi a situação como um atípico caso de hereditariedade - uma linhagem dessas não se vê a todo o instante... É um caso digno de estudo!
Compreendi também que o cerne do problema não é ser corno: é ser corno sozinho!



quinta-feira, 29 de novembro de 2018

REFLEXÕES - Herbert Haeckel 

E a vida é assim, cheia de caminhos, cheia de contradições, cheia de alternâncias. 
Para um anoitecer há um amanhecer. 
Para uma tristeza, uma alegria. 
Para uma despedida, um reencontro. 
Para um fim, um recomeço. 
Para as incertezas, a certeza de que tudo passa, tudo é transitório. 
Até mesmo o sofrimento, até mesmo a dor, que insistem em dizer que estarão conosco para sempre, são efêmeros, como esta existência aqui é. 
Um passo à frente é o que nos afasta da angústia da separação e nos aproxima do tão esperado reencontro. 
Caminhemos!



sábado, 24 de novembro de 2018


CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Salve-se quem puder
(Herbert Haeckel)


Astromílio Ladeira foi quem me narrou este caso, quando de minha visita a Maniçobal. Quis vê-lo novamente. Não pude. Hoje, somente seus ossos e cabelos persistem na existência material. Merecido descanso!
Trinta anos durante, empregou em seu comércio de secos e molhados o grego Nikoláos Chronopoulos, que fugira de Peristeri, alguns anos depois de ter-se emancipado de Atenas.
Não sei o motivo de sua vinda para o Brasil. Mas, veio, como se diz aqui e acolá, com uma mão na frente e outra atrás. Veio com ideias diferentes. Vestia-se com camisas negras e punha o membro superior direito em extensão, levemente erguido um pouco acima da cabeça. Casou-se. Constituiu família. Teve dois filhos.
Os negócios de Astromílio iam bem. Muito bem. A cidade crescia. Descobriram-se ouro e cobre. Veio o progresso. Com ele, veio também a necessidade de adequar o seu promissor negócio aos ventos do desenvolvimento. Pensou em contratar mais gentes. Contratou-as. Cogitou em abrir sua primeira filial em Senhor dos Passos. Abriu-a.
A situação reclamava alguém que pudesse tocar o novel negócio e que fosse de sua integral confiança.
Nikoláos recomendou-lhe o filho, Andros Chronopoulos - que chegara recentemente da Capital, onde aprendera a administrar o negócio alheio - para cuidar do estabelecimento a ser inaugurado em Senhor dos Passos. Astromílio gostou da ideia e adotou-a. Confiou em Andros, porque motivos não tinha para dele desconfiar.
Andros, que também gostava de camisas negras, vivia a arrotar honestidade. Tirando-o, o que sobrava – segundo ele - era a choldra. Ninguém se salvava. Não cansava de repetir: “ladrões incorrigíveis todos!”...
Encontraram depois, além do ouro e cobre, pedras preciosas. Mais riquezas e progresso para Maniçobal. Mais pessoas vinham de fora e a cidade crescia, fazendo crescer também o comércio local... Senhor dos Passos seguia o mesmo caminho de prosperidade.
Todavia, os negócios de Astromílio começavam de padecer. Exaustavam-se irremediavelmente, sem aparente explicação. Os livros contábeis apontavam um crescente endividamento. Mas, as lenitivas palavras de Andros, a sugerir uma crise passageira e a fé em dias melhores, num malabarismo singular, embotavam a visão de Astromílio.
Sem que pudesse fazer qualquer coisa para evitar, Astromílio foi à falência. Os credores caíram sobre os bens da massa falida como esfaimados abutres na carcaça putrefata, nada lhe restando ao final do processo falimentar. Ficou a dever ainda, é bem verdade...
Conheci-o quando seu corpo já definhava e quase não possuía forças para continuar na mendicância.
Andros, que de aparente ladrão não tinha nada, possuía oculto e execrando vício. Acumulou riqueza ladroando desde o primeiro dia até estiomenar o último centavo de Astromílio Ladeira.
Hoje, tem seu próprio negócio, construído a expensas do suor alheio.
Vi Andros Chronopoulos, o atacadista, há poucos dias num botequim.
De barbas brancas, a ostentar ouro no punho e no pescoço, aproveitou a distração do casal da mesa ao lado e, repetindo um antigo e inabdicável hábito, subtraiu-lhe um acepipe, dizendo, sem tardança e em tom profético:
- Esta abominável ladroagem vai ter fim em primeiro de janeiro!
Salve-se quem puder...

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Ajoelhou, reze!
(Herbert Haeckel)


Contou-me este ocorrido Honório Cafezeiro. Peço vênia para aqui trazer a narrativa à tona. Talvez eu não seja perfeitamente fiel ao que me foi contado. O tempo costuma embotar a memória. De defunto, Honório já soma quarenta anos... Ademais, dizem por aí, e por aqui também, que quem conta um conto aumenta um ponto. Desculpai-me, pois, se me distanciar em demasia daquilo que realmente aconteceu!
Não havia energia elétrica em Morro Velho da Boa Esperança. Lâmpada elétrica? A novidade adventícia do século XIX não lhe visitara até então, já passados quase cinquenta anos do século XX.
Sob a luz débil de candeias, os moradores sentavam-se à frente de suas casas, até que chegasse a hora de recolherem-se.
Depois das 22 horas, portas e janelas todas fechadas. Nenhuma flama a queimar torcidas. Nenhuma alma viva a circular pelas ruas. Vez ou outra, gritos ou gargalhadas, vindos da rua de trás, rompiam, violentamente, o silêncio da noite.
Temiam todos, na escuridão desafiadora, topar com o fantasma de Bento Oliveira, capataz morto pelo seu senhor de engenho, quando foi flagrado sem as calças nos aposentos da sinhá - a ciência dos cornos costuma fazer do pacífico homem um animal feroz! Conheço um que esmurrava, irascível, a parede toda a vez que supunha um deslize de sua amada... Menos mal! Pelo menos, não encostava, covardemente, os dedos na mulher, coitada! Costumo dizer, para quem me procura para os conselhos das coisas de família, que o corno é o verdadeiro culpado do adorno frontal que recebe de presente. Quem procura acha!
Morro Velho da Boa Esperança contava com quatro ruas, três delas atrás da Igreja de São Pancrácio, padroeiro local, desde os tempos de freguesia. Segundo o padre Gentil, as ruas atrás da igreja eram as mais frequentadas por Bento Oliveira - o tal fantasma de que vos falei há pouco. Deviam, portanto, ser evitadas. Era um imperativo. Além disso, a última delas, a rua do Sossego, abrigava a casa de Janete, que uma ou outra língua ferina dizia ser ela “mulher de vida fácil” - fácil para quem não a vive... ide prestar serviços num prostíbulo para ver o que é bom para a vossa tosse! A boa conduta católica, cobrada com vigor por padre Gentil, proibia, inclusive, que se andasse pela rua do Sossego. Nem de dia! O desobediente seria sumariamente excomungado. Palavra do padre Gentil. Assim seja!
Muitos até quiseram a expulsão de Janete da cidade - pequena no tamanho, grande na hipocrisia. Mas, assentiam aos apelos do padre Gentil, que invocava a prática do perdão:
- E quem nunca pecou que atire a primeira pedra! dizia ele, repetindo a máxima cristã, já em desuso naqueles tempos.
O saudoso Honório voltava do casamento da filha de Amâncio Cordeiro, o mais próspero fazendeiro daquela região à época. Montado em sua mula, aproximava-se de sua casa, na praça do mercado, em frente à igreja, quando teve a ideia de ir à rua do Sossego, movido por uma, não se sabe de onde vinda, invencível curiosidade.
Passava da meia-noite. Todos dormiam certamente. E o padre Gentil nunca saberia de seu deslize. Nunca... Nisto, o mais importante: estaria, pois, livre da excomunhão! - pensou com convicção.
Um salão suficientemente iluminado, em que o perfume enjoativo de flores se misturava ao odor forte de querosene e do fumo queimado, tornando a atmosfera local desagradável, descortinou-se aos olhos de Honório Cafezeiro. Algumas mulheres seminuas, a mexer morosamente seus corpos numa dança lúgubre. De onde vinham tantas?
Ao fundo, à direita, num sofá de veludo vermelho rubi, padre Gentil, despido da sotaina, segurava uma garrafa de cachaça, já pela metade, e tinha, genuflexas a seus pés, Janete e uma outra - que não posso revelar o nome, porque gestou um conhecido magistrado - que se ocupavam com as bocas nas partes íntimas do espalhado sacerdote, que dizia, a deleitar-se, entre um gole e outro:
- Amem! Amem-me!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Para inglês ver
(Herbert Haeckel)

Pedro Pedreira não era de pedra. Fazia-se tal qual. 
No aconchego do lar, era um líder tirano. Acreditava terem-lhe respeito, mas era temor. Acreditava ser amado, mas era submissão. De esposa e filhos.
Na sala de aula, cuja cátedra lhe caiu no colo, graças a seu padrinho Coriolano Peixoto, esmerava-se na tirania.
Não tive o desprazer de tê-lo como mestre. Desprazer nem tanto pelo seu caráter perseguidor, seu invariável mau-humor, sua intolerância, sua rabugice; mas pela pouca ciência que possuía.
Todavia, conhecia-o bem. Tão bem a ponto de vir-me à boca - como dizia Augusto dos Anjos - uma “ânsia análoga à ânsia que sobe à boca de um cardíaco”, toda a vez que com Pedreira eu me punha próximo. Meu ofício empurrava-me para este desagradável convívio. Fazer o quê? Nada mais adequado que o adágio popular “o que não tem remédio remediado está!”...
Enquanto eu aguardava sentado num canapé na área vestibular do seu gabinete, eis que irrompe no recinto, furioso, Coriolano Peixoto. Olvidou-se de fechar a porta. Ficou às escâncaras.
Pedro Pedreira, prontamente, levantou-se de sua cadeira. Cogitei: vai dar merda!
- Por que você fez isso? - perguntou-lhe Peixoto, sacudindo um jornal.
- Eu pensei... - mal Pedro Pedreira iniciava a frase e foi abruptamente interrompido.
- Quem você pensa que é para achar que pode pensar, seu mulatinho pernóstico? - aos berros e gesticulando excessivamente.
Pedro Pedreira, que se fazia de pedra, era pedra para inglês ver.
Humildemente, pediu permissão e arqueou-se para pegar a dentadura que com a bofetada lhe voara da boca.
Naquele momento, vi Pedro Pedreira docilmente abanar o rabo, como um cão que quer agradar ao dono, numa demonstração inequívoca de deprimente subserviência. E covardia.
CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Para um povo sem-vergonha, um representante que lhe equivalha!
(Herbert Haeckel)

A única certeza absoluta é a de que devemos duvidar de tudo. Já dizia Renatus Cartesius. E lá quinhentos anos quase se vão...
Gersino Furtado talvez nem imaginasse quem foi Cartesius e a importância do filósofo francês para as ciências. Gersino desviou-se da escola desde muito cedo. Aprendeu a ler e escrever - é verdade. E, deste tempo, trouxe o hábito, do qual nunca se afastou, de escrever na palma da mão esquerda o que vai fazer ou dizer.
Arquitetou uma carreira política. Não servia para nada mesmo - assim como a morte e os impostos, sua inutilidade era uma certeza inexorável.
E, convenhamos, se Gersino Furtado tivesse vivido na Florença do início do século XVI, teria sido o modelo para Niccolò di Bernardo dei Machiavelli: a política acima da moral e da ética...
Decerto, os leitores já se impacientam, com tantas voltas! Estais cobertos de razão!
Não estando Gersino habilitado para qualquer ofício, lançou-se candidato à prefeitura.
Empunhando uma vassoura, fez campanha esquivando-se dos opositores e prometendo limpar o que de imundo havia na política. Não se incluía na sujeira, conquanto evitasse ficar parado na calçada para não ser levado pelo serviço de coleta do lixo.
Além disso, porque desprovido de qualquer princípio moral, mentiu copiosamente. Mentiu porque sabia que o eleitor se encanta com as mentiras, mesmo aquelas pouco elaboradas; mentiu porque sabia que o eleitor não duvida da mentira.
Quereis a verdade? Antes, debruçai sobre os fatos e conhecei-os, e a verdade apresentar-se-vos-á!
Gersino Furtado elegeu-se. Antes que alguém lance um comentário a reprovar o resultado, dir-vos-ei que o representante é reflexo do representado: assemelham-se na índole, seja má ou boa!
Hoje, depois de dois anos, não se encontra um só eleitor de Gersino. Mais do que arrependidos, envergonhados.
E Gersino segue com seu projeto...
Não tem Furtado só no nome.
Aliás, todos que estão lá na prefeitura têm furtado!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Fronte bicúspide
(Herbert Haeckel)

Não confio em quem superou a dose envenenada, ainda que a superação tenha sido por descuido da natureza. 
O veneno ineficaz traz consigo, também, além do susto, ou temor, pela iminente morte, aos que dela têm consciência, o caráter insidioso, de que já vos falei outrora, para quem o sorveu.
Vi isso na prática.
Judas Hermengardo sobreviveu ao veneno. Não no todo. O que de humano existia foi substituído por sobeja indigência moral.
Chamou-me Judas Hermengardo para uma conversa. Dizia ter algo importante para tratar.
Como a minha índole incita-me a ajudar inclusive os escroques - que, na verdade, são os mais necessitados do auxílio moral - assenti ao seu pedido e fui ao seu encontro.
Confesso-vos também ter ficado intrigado com o nome. Mas, menos curioso do que estais agora. Acalmai-vos! Dir-vos-ei o que me disse a genitora de Judas Hermengardo, quando lhe perguntei sobre tão peculiar denominação: é o nome de um discípulo de Jesus - respondeu-me.
De tão óbvia que era a resposta, fiquei surpreso ao ouvi-la. Não me ocorreu, naquele instante, tratar-se de Tadeu, filho de Tiago, a quem a homenagem era endereçada.
Não sei se digo que foi bom ou ruim escolher aquele homenageado. Todavia, acredito piamente que foi melhor do que se escolhesse o redimido Iscariotes, que até os tempos de hoje é injustamente malhado por sua infeliz escolha.
Perdi-me no emaranhado das ideias! Ah! Lembrei-me onde estava!
Ao chegar ao encontro marcado, Judas Hermengardo já me esperava, com o imutável e indisfarçável cinismo estampado no rosto.
- Não sabe da maior! - disse-me o incorrigível mexeriqueiro, antes mesmo que eu me sentasse à mesa.
Franzi a testa, como se dissesse que não me interessava em saber do que se tratava.
Ainda que eu dissesse com todas as letras que não queria ouvir os mexericos costumeiros, não adiantaria nada! Ele vomitaria tudo, e só me deixaria ir depois que o ouvisse.
Falou-me do infortúnio de um parente próximo seu. Um primo carnal. Sua consorte havia sido flagrada em adultério, num motel de periferia. Tentaram abafar o escândalo. Entretanto, Judas Hermengardo cuidou para que a notícia se espalhasse...
Judas Hermengardo desmanchava-se em gargalhadas, como se estivesse a assistir a um grotesco espetáculo teatral, que retrata a miséria humana, em tom de zombaria.
Ouvi-o. Calado.
Disse-me, convicto:
- Mulher minha não faz estas coisas, porque eu sei doutrinar!
O telemóvel tocou. Não atendeu à ligação. Desligou.
Chamou-me para um xícara de café em sua casa. Nem sou fanático por café. Fui.
Abriu a porta de casa e pediu-me que entrasse. Entrou em seguida.
No sofá da sala, sua doutrinada esposa, como veio ao mundo, refestelava-se, absorta, nos braços do amante, suplicando:
- Rasga, Zezão! Rasga!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Nada que o tempo não cure...
(Herbert Haeckel)

Costuma-se dizer que amigo é o irmão que podemos escolher. Eu generalizo: é o parente que podemos escolher. 
Se não bastasse o fatalismo do parentesco consanguíneo, do qual não há escapatória, ficamos sujeitos às escolhas nossas e de nossos parentes com relação ao cônjuge, o que determinará o parentesco por afinidade.
Molibdênio Fizzera tinha um apego excessivo com os animais. Amava-os. Exageradamente.
Seus pais, em princípio, achavam lindo e maravilhoso. Começaram a preocupar-se com o passar do tempo.
Molibdênio cresceu. Cultuou hábitos nada ortodoxos.
Quis ser veterinário. Não pôde. Contentou-se com as ciências agrárias.
Vejo que um ou outro, timidamente, pergunta-se qual a origem do nome... Acaso seus pais seriam químicos?
Não iria falar sobre isso. Mas, a circunstância reclama o esclarecimento: dera-lhe o nome sua mãe. Ela era de pouquíssimas letras, além de possuir uma indescritível preguiça para pensar. Viu o nome numa placa na botica de Jeremias Cascoverde: “óxido de molibdênio VI”. Encantou-se. Mais do que imaginais, as pessoas se encantam com aquilo que não conhecem...
Não conseguiu que seu marido registrasse o filho com o nome Óxido de Molibdênio. Ficou somente Molibdênio.
Desculpai o meu impulso digressivo! Prossigamos!
Como disse alhures, Molibdênio amava os bichos.
Foi numa exposição de muares que Molibdênio conheceu Sidicleia. Eu não acreditava em amor à primeira vista. A partir daí, revi meu conceito sobre a temática do amor instantâneo.
Molibdênio adquiriu Sidicleia. Pagou caro por isso. Muito caro. Mas, nada lhe importava.
Sidicleia era uma jumentinha da raça Pega. Para Molibdênio, era a jumentinha mais linda do mundo! Não se cansava de declinar, como poesia, os atributos físicos de Sidicleia. A cabeça, o pescoço, as espáduas, a cernelha, o lombo-dorso, a garupa, as coxas, os boletos, os jarretes, a cauda... Tudo estava, para Molibdênio, em perfeita harmonia!
Eis que Molibdênio anuncia o inesperado: iria casar-se com Sidicleia. Casaram-se. Sem pompa e circunstância, é bem verdade.
A mãe de Molibdênio ganhou uma nora jumenta. E para seu desgosto, reconheço, teve de aceitá-la.
Os parentes, que não podiam opor-se ao novo membro da família, também tiveram de aceitá-la. Não lhes cabia a escolha.
Como o tempo é o melhor remédio para as devidas adaptações ao inusitado, ao passarem por Sidicleia no verde pasto, logo cedo, pela manhã, acostumaram-se a dizer:
- Bom dia, prima!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

São outros quinhentos
(Herbert Haeckel)

Depois de 800 anos de dominação árabe na Península Ibérica, os Reis Católicos expulsaram o invasor. Nem todos, obviamente...
Sérvulo, o mouro, como era conhecido, não nasceu europeu. Era mouro, como bem se pode deduzir... Nada contra o povo do islã! Que isto fique bem claro!
Sérvulo, o mouro, converteu-se ao catolicismo. Por conveniência, é bem verdade. Mas, converteu-se. Aspirava a uma ocupação na Corte de Dom Fernando II de Aragão.
Tinha um perfil peculiar: bajulador, venal, ardiloso, vingativo, dissimulador e mentiroso, muito mentiroso. Ademais, era pequeno. Não somente no nome, não somente na estatura.
Para esconder a tez mui morena, adquirida geneticamente, e cujo fenótipo foi intensificado pelo sol escaldante do Saara, vestia-se com roupas pretas, que davam a falsa impressão de ser mais claro do que realmente não era. Tinha aversão às suas origens. Queria, primeiro, ser ibero. Depois, com a notícia que chegava do aventureiro genovês, financiado pelos Reis Católicos, acerca do grande achado do final do século XV, sonhava em ser americano. Mas, isto era segredo seu...
Sonhador - esqueci-me de incluir este atributo no rol acima! - Sérvulo, o mouro, fazia planos, já contando como certa a sua ida para o Novo Mundo.
Todavia, necessitava, antes, consolidar-se na Corte. E acumular metais.
Sérvulo, o mouro, era hábil em persuadir as pessoas - isto eu não posso negar! Com sua voz fina, mas nada melodiosa, conseguia atrair a confiança da maior parte das pessoas, que, desavisadamente, viam naquele homem de preto uma sincera e angelical pessoa.
Finalmente, Sérvulo, o mouro, depois de muito bajular a rainha consorte, Dona Isabel de Castela, conseguiu uma ocupação na Corte: ficou responsável por zelar pela fé, função análoga à dos juízes das 12 Tribos, das quais narra o Velho Testamento.
Adquiriu notoriedade. Não em razão do zelo pela fé, mas em decorrência de sua volubilidade.
De acordo com a conveniência da situação, mudava de opinião, como a pluma muda de direção conforme o vento. Para isto, estendia sua mão direita para a frente e dizia:
- Mas aí, são outros quinhentos!
Depois, guardava contentemente um saco com 125 moedas de 4 maravedis...



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Mui amigo para sempre
(Herbert Haeckel)

Galindo Marabá não sabia pescar. 
Elegeu-se deputado, com a promessa de fazer chover no cerrado durante o ano todo.
Um pequeno pecuarista, Eutérpio Goiabeira, mui amigo seu, comprou a ideia. Mandou cercar umas terras sem donos. Cercou também aqueloutras que tinham donos, depois que esses donos receberam como paga sete palmos de terra na vertical. Marabá cuidou dos pagamentos.
Eutérpio esperou por anos a chuva que viria o ano todo. Nunca veio. Vieram outras coisas. Mas, convenhamos, isto não lhes foi motivo para acabar com uma amizade!
Lá se vão quase trinta anos... 
Galindo Marabá, cansado da deputança, aceita a sugestão de morar no Alvorada.
Eutérpio Goiabeira, que de pecuarista foi a banqueiro - sabe-se lá como! - não viu com bons olhos a empresa do amigo. Admoestou-o a desistir.
- Que nada, compadre Eutérpio! Eu preciso é da chave do cofre! 
Malgrado fossem amigos, Eutérpio, que de trouxa nada tinha, e nem de santo, não confiava em Marabá. Eu também não confiaria numa pessoa destemperada, que tudo quer resolver no grito ou na bala, e que não gosta de pretos... 
Como eu poderia deixar de contar-vos? 
Um lapso de memória, confesso... Eutérpio era filho de Preta Zenaide, filha da cozinheira da casa dos Hoffmannistall. Aos catorze anos, Preta Zenaide, que ainda fazia de bonecas as espigas de milho, ficou prenhe do primogênito de Hans Hoffmannistall. 
Quando pariu, o menino foi deixado numa das últimas rodas dos expostos. Mas, sempre vigiado de longe por Preta Zenaide, que no leito de morte, aos 32 anos, com tuberculose, deixou uma escritura em que passava uma porção de terra, nada parcimoniosa, que recebera em doação de seu primeiro e único amante, para o filho que não pôde amamentar.
Eutérpio recebeu somente a prenda. Em troca, deu àquela a quem não considerava mãe, mais pela cor que pelo abandono, o total desprezo.
O resto da estória vós podeis deduzir...
O fato é que Eutérpio também tinha outros planos, que justamente iam de encontro aos de Galindo Marabá.
Desfez-se a amizade.
Galindo Marabá perdeu a eleição. Ficou sem emprego. Nunca juntou nada. Sempre dizia quando lhe pediam um dinheiro: "não dê o peixe, dê a vara!" - assim mesmo, com estas palavras.
Eutérpio também não se elegeu. Ficou ministro. 
Galindo Marabá passou por cima do orgulho e foi suplicar a Eutérpio Goiabeira, o ministro. 
Eutérpio deu-lhe a vara. No lombo.



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Olindo Aroeira
(Herbert Haeckel)

Arrisco-me a dizer que o amor é a síntese do otimismo.
Olindo Aroeira nasceu causando choque. Espanto.
O obstetra quase o deixa cair após tirá-lo do ventre materno e assustar-se ao fitá-lo. Era por demais feio. Nasceu com os olhos arregalados. A enfermeira, ao pegá-lo para a pesagem, não se conteve:
- Jesus, Maria e José! O que é isso?
Seus pais convergiam para o senso comum naquele momento. Por isso, e muito mais ainda por amor, deram-lhe o nome Olindo.
- Pelo menos, alguma coisa bonita ele terá...
Olindo Aroeira nunca chorou na vida. Nunca precisou. Por extrema cautela, seus pais faziam-lhe todas as vontades. Previam seus desejos. Não queriam ter a experiência de vê-lo chorar. Era arriscado.
Quando chegou a idade para ir à escola, Olindo Aroeira foi matriculado no Grupo Escolar Professora Maria Taubaté. No terceiro dia de aula, a diretora foi pessoalmente à casa de Olindo recomendar que não o levassem mais para a escola. Vou abrir um parêntese aqui: no segundo dia de aula, foi registrada uma evasão de 99,95% dos alunos. Fecho o parêntese.

Sugeriu a diretora um método que, segundo ela, seria introduzido uns setenta anos depois: ensino à distância, desde o primário até a universidade. Advirto-vos que naquela época o que se chama hoje “fundamental” era o curso primário.
E assim Olindo foi educado.
Seus pais, seus mestres.
Passou pelo Curso de Admissão, pelo Ginasial... Tudo em casa!
Eis que chegou a hora de ingressar na universidade... Olindo optou por fazer filosofia. Dizia ser sua paixão. Diplomou-se filósofo. Em casa. Aluno laureado.
Logo depois, talvez por estar cumprida a missão, seus pais descansaram os olhos para sempre.
Olindo estava só. Não lhe fez muita diferença. Nunca teve amigos. Fez do cigarro seu companheiro inseparável. Até os dias de hoje.
Iniciou sua carreira de professor de filosofia inaugurando um curso por correspondência. Literalmente.
Enviava aos seus, inicialmente poucos, alunos cartas com as assuntos que ministrava.
Olindo discordava de tudo.
Certa vez, escreveu uma carta - gostava de cartas, bilhetes, telegramas... - ao senador Altamiranelson Araucária, sugerindo-lhe um projeto de lei que revogasse as Leis de Newton.
Como resposta, o senador Araucária disse-lhe que não seria prudente mexer com alguém do quilate de “Nilton” (foi assim mesmo que o senador grafou), mas que faria todo o esforço para que as “leis de Nilton” fossem “mais brandas”.
Olindo Aroeira afirma, até hoje, que a Terra é plana e é o centro do Universo.
Diz que quem usa incenso é “
esquerdopata comunista”, e que tem certeza de que Gaspar, o rei mago de vinte e poucos anos que levou incenso ao Menino Jesus, era comunista.
Com a modernidade, veio a internet. Olindo adaptou-se bem à nova condição.
Sem nunca ter pisado numa sala de aula, continua a dar aulas... Agora, pela internet. Autodenomina-se “professor Olindo Aroeira, o filósofo”.
E como eu já disse noutra ocasião, há sempre um tolo a depositar noutro tolo a sua confiança.
Há sempre um tolo a chamar um outro tolo por “professor”... e “filósofo”!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

O bom pastor
(Herbert Haeckel)

Macadâmio... 
Quando nasceu, não era de Jesus. Nem era Macadâmio. Somente depois dos vinte anos, já na igreja, virou Macadâmio de Jesus.
Não gostava de estudar. Com muito esforço, terminou a 4.ª série. Sonhava um dia ser rico.
Surgiu-lhe, de repente, a igreja. Cleodomiro, o Bom Pastor - assim se apresentava -, convenceu-o a converter-se. Logo, logo, chegou ao púlpito.
Mas, ficou responsável pelas ofertas. Levava jeito para isso.
Talvez da noite para o dia - não sei bem ao certo dizer -  já não precisou mais sonhar em ser rico. Comprou imóveis. E móveis também.
Os fiéis, cada dia mais pobres, mas sem deixar de ofertar parte de seus rendimentos, ouviam-no dizer:
- Tem de ter fé e merecimento! Se eu não tivesse fé e não merecesse, não ganharia de deus o que eu tenho hoje.
Por isso mesmo, culpavam-se pelos revezes, culpavam-se pela penúria por que passavam...
Para eles, Macadâmio de Jesus era rico porque era um homem santo, um homem de Deus... E era, também, um bom pastor!
Macadâmio morreu novo. Aos 51 anos. O coração não suportou. Overdose. Mas, morreu fazendo o que mais gostava de fazer na vida: estar nos braços de prostitutas bonitas da Casa de Odete Butterfly.




Momento Haikai VII - Herbert Haeckel


Foto: H. Haeckel


Momento Haikai VII
(Herbert Haeckel)

Nexo... Dá-me o ontem,
Neste amanhã que não vem,
Hoje de presente.



Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.