CRÔNICAS - Herbert Haeckel
Nem tudo que cai da goiabeira é goiaba
(Herbert Haeckel)
Clarisvalda do Espírito Santo abandonou o serviço público, em que mais desserviu do que serviu, e foi pregar a palavra de “God” - não vos espanteis, caríssimos leitores, mas ela anglicizava tudo!
Dizia-se messiânica - na verdade, “messianic”.
Convenhamos, não era ela muito bem querida na sociedade. Recebeu algumas pedras, inclusive de quem também havia pecado. Mas, quem sou eu para julgar?
Sua vida mudou, da água para o vinagre, quando vinha caminhando, depois de exaustiva pregação, tarde da noite, para sua casa, no Alto da Soledade.
Começou de sentir as entranhas dominarem seus sentidos. Uma dor terrível parecia cortar seu abdômen. A comida não lhe fizera muito bem.
Aproximou-se de uma goiabeira. Ouviu o chamado intestino. Seria ali mesmo. Mas, havia ainda transeuntes.
Outra vez a voz intestina manifestava-se, já com uma certa rebeldia, e dizia que subisse prontamente na goiabeira. Subiu, com uma destreza nunca antes vista. Aprumou-se num galho - que se envergou, em resposta ao sobrepeso, mas que não se rompeu. As dores pulsantes vinham cada vez mais fortes. Suava frio. Rezou. Torceu-se. Contorceu-se. Tanta era a dor que jura ter visto o Cão chupando manga no alto da goiabeira. Não suportou, por fim. De lá, despejou aquilo que lhe servira de mantimento outrora.
Todavia, nem tudo são flores. Alívio de um lado, desespero de outro. No exato momento em que a matéria fecal liquefeita obedecia aos desígnios da lei da gravidade, passava o clérigo Timóteo Avelino, portando sua recente tonsura.
Todo lambuzado, Timóteo, furibundo, perguntou, aos berros, quem estava no alto do pé de goiaba.
Um arrulhar desafinado ouviu-se. Clarisvalda tentava imitar um pombo. Não foi convincente.
Timóteo tornou a perguntar, já com ameaças, quem estava no alto da goiabeira.
Uma voz estilizada de criança foi, então, ouvida:
- É o bichinho da goiaba! Comi uma goiaba podre que me deu dor de barriga! - disse-lhe Clarisvalda.
Vendo que com enganos lhe era assim negada a verdade, Timóteo sacou um revólver e deu um tiro para o alto. Não atingiu ninguém.
Com o susto, Clarisvalda despencou da goiabeira. No chão, com as calçolas nos tornozelos e as saias amarradas acima do umbigo, ficou com as vergonhas ao vento.
Desde então, Clarisvalda, por força do ocorrido, virou “bichinho da goiaba podre”. Tentou continuar nas pregações. Não foi possível.
Depois que Felisberto Cupertino me narrou este acontecido, quem me conhece sabe que uma cautela carrego comigo: não passo debaixo de árvore sem antes averiguar se há ou não um esfíncter anal pronto para atacar!
Dizia-se messiânica - na verdade, “messianic”.
Convenhamos, não era ela muito bem querida na sociedade. Recebeu algumas pedras, inclusive de quem também havia pecado. Mas, quem sou eu para julgar?
Sua vida mudou, da água para o vinagre, quando vinha caminhando, depois de exaustiva pregação, tarde da noite, para sua casa, no Alto da Soledade.
Começou de sentir as entranhas dominarem seus sentidos. Uma dor terrível parecia cortar seu abdômen. A comida não lhe fizera muito bem.
Aproximou-se de uma goiabeira. Ouviu o chamado intestino. Seria ali mesmo. Mas, havia ainda transeuntes.
Outra vez a voz intestina manifestava-se, já com uma certa rebeldia, e dizia que subisse prontamente na goiabeira. Subiu, com uma destreza nunca antes vista. Aprumou-se num galho - que se envergou, em resposta ao sobrepeso, mas que não se rompeu. As dores pulsantes vinham cada vez mais fortes. Suava frio. Rezou. Torceu-se. Contorceu-se. Tanta era a dor que jura ter visto o Cão chupando manga no alto da goiabeira. Não suportou, por fim. De lá, despejou aquilo que lhe servira de mantimento outrora.
Todavia, nem tudo são flores. Alívio de um lado, desespero de outro. No exato momento em que a matéria fecal liquefeita obedecia aos desígnios da lei da gravidade, passava o clérigo Timóteo Avelino, portando sua recente tonsura.
Todo lambuzado, Timóteo, furibundo, perguntou, aos berros, quem estava no alto do pé de goiaba.
Um arrulhar desafinado ouviu-se. Clarisvalda tentava imitar um pombo. Não foi convincente.
Timóteo tornou a perguntar, já com ameaças, quem estava no alto da goiabeira.
Uma voz estilizada de criança foi, então, ouvida:
- É o bichinho da goiaba! Comi uma goiaba podre que me deu dor de barriga! - disse-lhe Clarisvalda.
Vendo que com enganos lhe era assim negada a verdade, Timóteo sacou um revólver e deu um tiro para o alto. Não atingiu ninguém.
Com o susto, Clarisvalda despencou da goiabeira. No chão, com as calçolas nos tornozelos e as saias amarradas acima do umbigo, ficou com as vergonhas ao vento.
Desde então, Clarisvalda, por força do ocorrido, virou “bichinho da goiaba podre”. Tentou continuar nas pregações. Não foi possível.
Depois que Felisberto Cupertino me narrou este acontecido, quem me conhece sabe que uma cautela carrego comigo: não passo debaixo de árvore sem antes averiguar se há ou não um esfíncter anal pronto para atacar!