CRÔNICAS - Herbert Haeckel
Tal como uma luva
(Herbert Haeckel)
Costuma-se a associar o nome de algo ou uma característica às pessoas que se conhece. É quase instantâneo e natural. Talvez, seja uma forma mnemônica, para não olvidar o nome de alguém. Quão constrangedor é esquecer o nome de alguém!
Certa feita, vou-vos contar, encontrei-me com uma colega dos tempos primevos de escola. Ela lembrou-se de meu nome. E eu, do nome dela, não. No auge da palestra, ela perguntou-me, desconfiada, se eu me lembrava de seu nome. Disse-lhe que sim, a mentir. Perguntou-me qual era. Respondi-lhe, de chofre: não sei! Que vergonha...
Hoje, sempre que necessário, faço a aludida associação, para não ser, novamente, traído pelo olvido.
Alsuc Aranjuez possuía hábitos diferentes. Não era adepto das leituras. Logo cedo, conseguiu criar um subterfúgio para não frequentar a escola - introduzia um dente de alho entre uma nádega e outra, e ardia em febre; conclusão a que chegaram seus pais: a escola poderia ser mortal para Alsuc. Tiraram-no, pois, da escola.
Foi crescendo, acostumando-se a ter tudo nas mãos, sem esforço qualquer. Se se via contrariado, apelava para o alho! E haja antipirético!
Confidenciou-me Antero Farabeuf, esculápio que acompanhou o caso de Alsuc, ser um mistério para a medicina. Nada lhe disse. Ri.
Chegada a hora de começar a trabalhar, empregou-se na mercearia de Castorino Flores. Quando não estava com febre, passava quase que o dia todo deitado por sobre sacos de farinha. Castorino despediu-o no segundo mês. Durou até muito tempo!
Com muita luta - dos pais, obviamente - conseguiu Alsuc outro emprego: na farmácia de Ana Tolentino. Não passou de uma semana! Foi colocado para fora.
Havia uma coisa que Alsuc fazia muito bem, além de dormir: comer.
Ganhou peso. O joelho valgo evidenciou-se. Vivia a queixar-se das assaduras na região pudenda.
Para a sociedade, era imperativo transparecer que era um ser humano normal, trabalhador. Sem ter onde mais trabalhar, Alsuc teve a ideia de assessorar sua mãe, nas tarefas de casa, recebendo, para tanto, um salário capaz de cobrir suas despesas - como vos falei, era um legítimo glutão! Amava as guloseimas!
Um trabalho, digamos, não muito extenuante: acender os queimadores do fogão. Era-lhe, por sinal, agradável função, haja vista a piromania herdada da mãe.
Pois bem, amigos, como vos falei alhures, passei a associar, sempre que possível, algum atributo a certas pessoas... E toda a vez que ouço a palavra “inútil” lembro-me, instantaneamente, de Alsuc Aranjuez.
Cabe-lhe como uma luva!
Certa feita, vou-vos contar, encontrei-me com uma colega dos tempos primevos de escola. Ela lembrou-se de meu nome. E eu, do nome dela, não. No auge da palestra, ela perguntou-me, desconfiada, se eu me lembrava de seu nome. Disse-lhe que sim, a mentir. Perguntou-me qual era. Respondi-lhe, de chofre: não sei! Que vergonha...
Hoje, sempre que necessário, faço a aludida associação, para não ser, novamente, traído pelo olvido.
Alsuc Aranjuez possuía hábitos diferentes. Não era adepto das leituras. Logo cedo, conseguiu criar um subterfúgio para não frequentar a escola - introduzia um dente de alho entre uma nádega e outra, e ardia em febre; conclusão a que chegaram seus pais: a escola poderia ser mortal para Alsuc. Tiraram-no, pois, da escola.
Foi crescendo, acostumando-se a ter tudo nas mãos, sem esforço qualquer. Se se via contrariado, apelava para o alho! E haja antipirético!
Confidenciou-me Antero Farabeuf, esculápio que acompanhou o caso de Alsuc, ser um mistério para a medicina. Nada lhe disse. Ri.
Chegada a hora de começar a trabalhar, empregou-se na mercearia de Castorino Flores. Quando não estava com febre, passava quase que o dia todo deitado por sobre sacos de farinha. Castorino despediu-o no segundo mês. Durou até muito tempo!
Com muita luta - dos pais, obviamente - conseguiu Alsuc outro emprego: na farmácia de Ana Tolentino. Não passou de uma semana! Foi colocado para fora.
Havia uma coisa que Alsuc fazia muito bem, além de dormir: comer.
Ganhou peso. O joelho valgo evidenciou-se. Vivia a queixar-se das assaduras na região pudenda.
Para a sociedade, era imperativo transparecer que era um ser humano normal, trabalhador. Sem ter onde mais trabalhar, Alsuc teve a ideia de assessorar sua mãe, nas tarefas de casa, recebendo, para tanto, um salário capaz de cobrir suas despesas - como vos falei, era um legítimo glutão! Amava as guloseimas!
Um trabalho, digamos, não muito extenuante: acender os queimadores do fogão. Era-lhe, por sinal, agradável função, haja vista a piromania herdada da mãe.
Pois bem, amigos, como vos falei alhures, passei a associar, sempre que possível, algum atributo a certas pessoas... E toda a vez que ouço a palavra “inútil” lembro-me, instantaneamente, de Alsuc Aranjuez.
Cabe-lhe como uma luva!
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