CRÔNICAS - Herbert Haeckel
De pai para filho
(Herbert Haeckel)
Depois de flagrar sua doutrinada esposa com outro no sofá da sala, Judas Hermengardo tomou duas providências, que, sob a sua caolha ótica, eram imperativas para, não sei bem se o termo correto seria este, evitar uma nova traição da estimada consorte: lançou o sofá no meio da rua, ateando-lhe fogo, e comprou um par de luvas de boxe - não, amigos leitores, não tinham as luvas por escopo serem utilizadas para bater na mulher, mas para evitar uma fratura na mão, acaso houvesse necessidade de esmurrar a parede, como de cotio!
Ah! Vede só como são as coisas: ia-me esquecendo de dizer, o mais importante quiçá, que Judas Hermengardo matriculou sua esposa num curso de corte e costura, no Centro de Educação para o Lar Helenita Serrão Madureira! Aulas noturnas. Eram mais em conta! Dar-lhe uma ocupação, para que, quem sabe, ela se esquecesse de pular o cercado.
Alguns meses depois, uns três, quero crer, Hermengardo liga-me, dizendo necessitar de um obséquio. Fui ao seu encontro.
Pediu-me que fosse à escola para verificar a frequência da esposa, uma vez que lhe foram mexericar que ela chegava a casa, à noite, depois da aula de corte e costura, todos os dias, em companhia de um homem, que a deixava na esquina, a uns cinquenta metros de sua porta.
Fui. Com ele ao lado.
Ao entregar-nos a lista de presença, a responsável pela escola disse-nos que nunca havia visto a esposa de Hermengardo. Nem poderia ter visto. Nunca foi às aulas...
Notei um certo desconforto em Judas Hermengardo.
- Ela não gosta de corte e costura. Eu deveria tê-la matriculado no curso de bordados! Ou de pintura! - disse ele, num indisfarçável constrangimento, muito embora eu acredite que de pintura aulas ela não necessite: já é experta em pintar o sete!
Em seguida, completou, sem que nada lhe houvesse sido perguntado:
- Minha avó Matilde traiu meu avô Jeremias... Ele é chifrudo igual ao meu pai.
Compreendi a situação como um atípico caso de hereditariedade - uma linhagem dessas não se vê a todo o instante... É um caso digno de estudo!
Compreendi também que o cerne do problema não é ser corno: é ser corno sozinho!
Ah! Vede só como são as coisas: ia-me esquecendo de dizer, o mais importante quiçá, que Judas Hermengardo matriculou sua esposa num curso de corte e costura, no Centro de Educação para o Lar Helenita Serrão Madureira! Aulas noturnas. Eram mais em conta! Dar-lhe uma ocupação, para que, quem sabe, ela se esquecesse de pular o cercado.
Alguns meses depois, uns três, quero crer, Hermengardo liga-me, dizendo necessitar de um obséquio. Fui ao seu encontro.
Pediu-me que fosse à escola para verificar a frequência da esposa, uma vez que lhe foram mexericar que ela chegava a casa, à noite, depois da aula de corte e costura, todos os dias, em companhia de um homem, que a deixava na esquina, a uns cinquenta metros de sua porta.
Fui. Com ele ao lado.
Ao entregar-nos a lista de presença, a responsável pela escola disse-nos que nunca havia visto a esposa de Hermengardo. Nem poderia ter visto. Nunca foi às aulas...
Notei um certo desconforto em Judas Hermengardo.
- Ela não gosta de corte e costura. Eu deveria tê-la matriculado no curso de bordados! Ou de pintura! - disse ele, num indisfarçável constrangimento, muito embora eu acredite que de pintura aulas ela não necessite: já é experta em pintar o sete!
Em seguida, completou, sem que nada lhe houvesse sido perguntado:
- Minha avó Matilde traiu meu avô Jeremias... Ele é chifrudo igual ao meu pai.
Compreendi a situação como um atípico caso de hereditariedade - uma linhagem dessas não se vê a todo o instante... É um caso digno de estudo!
Compreendi também que o cerne do problema não é ser corno: é ser corno sozinho!
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