sexta-feira, 25 de junho de 2021

 CRÔNICAS - Herbert Haeckel

No bico do urubu

(Herbert Haeckel)


Em verdade, em verdade, eu vos digo: uma mentira contada mil vezes, ao contrário do que andam a dizer por aí, não se transforma em verdade (uma mentira será sempre uma mentira), ela apenas pode adquirir o contorno da naturalidade. Tudo o que é natural é, de certa forma, aceitável, ou passa a ser aceitável, a depender de inúmeras circunstâncias.

Estava eu cá a pensar nas repercussões desta pandemia, em que se multiplicam como ratos os negacionistas, e lembrei-me de Atanasz Ingazeiro, o pastor, cuja mãe o dera à luz no prostíbulo de Jurema Sapiranga, conhecidíssima marafona de Pau de Angico, no terceiro quartel do século XX - a alcunha remetia à blefarite ciliar que a fez perder as celhas -, e que abriu seu próprio negócio, graças aos favores prestados a um ex-deputado udenista, já falecido, que, como bom burguês que era, de dia, defendia a família tradicional baiana, e, à noite, gastava seus dinheiros a explorar as putas da Ladeira da Montanha - segundo contam alguns, esse ex-deputado udenista emprenhou mais de vinte meretrizes. Na numerosa prole da putada, o pastor Atanasz.

Não muito apegado aos estudos, Atanasz conheceu a reprovação escolar logo cedo. Passava pelo menos dois anos, quando não, três, em cada série. Foi quando o ex-deputado udenista, pouco antes de morrer de doença adquirida nas noites perdidas nas esbórnias no putal, procurado por Tiana Ingazeiro, conseguiu, como retribuição a antigo obséquio, uma matrícula no Nossa Senhora de Lourdes, no bairro de Nazaré. Assim, Atanasz pôde, enfim, concluir os estudos do primeiro grau, sem necessitar, entretanto, frequentar a sala de aula, é bem verdade...

Começa de trabalhar na carniceria do Mercado Vásquez, onde conheceu Ivana Pompeu, que morava na Rua da Poeira e sonhava com a casa grande com empregados bastantes.

Para atender aos gostos da moçoila, Atanasz subtraía mercadorias, para assim vendê-las e apurar dinheiro quase suficiente para as exigências de Ivana. Foi descoberta a ladroíce e Atanasz perdeu o emprego. Não ficou preso, porquanto as peças do inquérito sumiram - há quem diga ter visto as mãos de Jurema Sapiranga, que muito acalantou o delegado Antunes Pena, nos tempos em que foi casado com a recatada Nancy, filha de proeminente político da região cacaueira, no sumiço dos tais papéis.

Ivana, muito mais sagaz, convenceu Atanasz a iniciar uma nova empresa. Fê-lo frequentar uma igreja, onde começou a especializar-se em explorar a fé alheia. Fez também Atanasz um curso por correspondência com o pastor Romildo, o capixaba, experto na arte de ludibriar incautos, que lhe acresceu a experiência de que necessitava para ganhar dinheiro à custa da ingenuidade dos que procuravam lenir seus sofrimentos, ou, como soía acontecer, à custa do enfermiço medo de arder nas labaredas do inferno por causa do amontoado de pecados - e é incrível como pessoas assim, multiplicados os bordéis disfarçados de igrejas neopentecostais, reúnem-se aos milhares e passam a adotar um padrão de comportamento: com uma bíblia debaixo do braço e a vestir uma roupa desprimorosa, esperam que todos acreditemos na remissão de seus pecados! Vede, por exemplo, Rasdna Al-Amari, que depois de enfeitar com um par de espalhafatosas guampas a fronte do fardado marido, com o contributo do cunhado, João Francês, hoje vive a segurar uma bíblia, a tentar fazer crer na sua regeneração, enquanto torce para que o marido morra e deixe para ela uma pensão.

Os reiterados saques na tesouraria do templo administrado por Atanasz fizeram com que Romildo, o capixaba, rompesse com o fino ladrão - neste meio, a concorrência é vista com maus olhos...

Com a fama de larápio adquirida, as portas das igrejas todas fecharam-se para Atanasz, que não teve outra opção senão, a imitar Silvano de Fafião, criar a sua própria igreja... É bem mais fácil do que podeis imaginar, nobilíssimos leitores! Basta um pouco de tolos e outro tanto de picaretas que fingem arrependimento e a igreja terá o seu rebanho de ovelhas... Tosquiá-las frequentemente é o imperativo para saciar o apetite pecuniário do pastor...

Passados alguns anos, desde os primevos tempos de farisaísmo, fui procurado por Atanasz, que desejava divorciar-se de Ivana, após ter ciência da tentativa infrutífera de envenená-lo. No curso do longevo processo de divórcio, já prestes a aniversariar pela oitava vez, Atanasz enviuvou.

Nossos contatos foram escasseando, até que desisti, por fim, de cobrar os devidos honorários.

Todavia, não deixei de, uma vez e outra, vê-lo na tevê durante as madrugadas, a aplicar o golpe do milagre em falsos doentes, em falsos viciados, e a dizer que a cura dependia, sempre, do quanto se tem de fé. Aí, portanto, o cerne da questão: ao afirmar que a cura dependia da fé, Atanasz, malandramente, afastava de si, com naturalidade, a responsabilidade pelo insucesso da terapêutica supostamente aplicada. Há, frequentemente, quem creia nestas farsas... E, de tanto repeti-las, tornam-se naturais.

Com a pandemia, apesar da insistência dos pastores e bispos em continuar com os cultos, para que não cessasse a ladroagem, sucumbiram ao vírus letal muitos daqueles que se diziam protegidos...

O charlatanismo de Atanasz, o pastor, com seus falsos milagres, de Romildo, o capixaba, com sua falsa água consagrada, e de tantos outros, foi escancarado, e ficou mais do que provado que igreja nada cura.

Antes de finalizar esta crônica, soube que Atanasz está, como se diz por aí, no bico do urubu: agoniza, sem esperança alguma de convalescer, num leito de cuidados intensivos...

Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.