(Herbert Haeckel)
Novos e mais sombrios tempos!
Ampliaram-se os conceitos... O de cultura, por exemplo...
Pode-se afirmar, hoje, que cultura é assim: o sujeito inicia o dia
comendo feijoada, dobradinha, mocotó, farofa, rabada, buchada de bode, sarapatel,
barreado, cuscuz com sardinha e ovo cozido, pastel-de-feira, caldo de cana,
açaí, mais ovo cozido, repolho, batata-doce, feijão tropeiro, baião-de-dois...
Joga por cima litros de caipirinha e de batida de maracujá, acompanhadas daquela
cervejinha. Dá uns passos de catira, sacoleja a carcaça num fandango caiçara,
come mais uns quitutes, batatinha em conserva, salada de cebola, pão de queijo,
croquete de salsicha, mais ovo cozido. Larga a mão com força no pandeiro e dá
aquela sambada de mestre-sala, com rodopio de porta-bandeira, joga uns passos
de capoeira e vai do maracatu ao frevo, sem perder o tom. Come mais uma dúzia
de ovos cozidos, salada de batata e maionese, bebe cajuína, chimarrão, tarubá e
guariba... Empina pipa e papagaio, antes do culto ou da missa das dez, vai ao
desafio repentista só para dizer palavrão, mais ovo cozido e cervejinha,
tiquira, aluá, com bolo de puba na quermesse, arroz doce, mugunzá e cachaça de
jambu. No final, com o bucho em verdadeiro motim, revoltado, indignado, vai espirrar
e solta aquele peido azedo, sulfurado, que afugenta até palhaço de circo e que acaba
com o forró, mesmo jogando talco no salão. Cultura é isso, cultura é assim...