sexta-feira, 15 de novembro de 2019



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Cidadãos de bens
(Herbert Haeckel)

Polifemo Almeirão sempre disse cultuar os “bons costumes”. Sempre disse ser, como de cotio se diz hoje a canalha numerosa, “cidadão de bem”. 
Nasceu, em verdade, num berço de pobreza e desamor. Com quase nada para comer, aos sete anos, Polifemo, que ainda disputava com outros três irmãos - que sequer tiveram um enterro digno - o peito combalido da mãe, Dona Jurandira - que se suicidou alguns anos depois, após profundo desgosto, segundo comentavam na antiga Rua Santa Cruz, na qual trabalhava, e também onde tombou o poeta Costa - prometeu a si mesmo que não passaria fome, mesmo que houvesse de pagar enorme preço.
Não lhe sendo apetecível a conciliação do estudo com o trabalho, Polifemo, aos treze anos, abandonou a escola e foi-se empregar na chapelaria do português Amálio Coutinho.
Aos dezenove anos, Polifemo ficou com a metade dos bens de Coutinho, deixada em testamento, do qual discordaram remuito, com razão, mas baldadamente, os descendentes do chapeleiro lusitano.
Neste mesmo ano, casou-se com Anadiômena Fagundes, filha única do viúvo Estélio Catarino Vilarreal do Amaral Fagundes, homem mais rico da região, que se jactava da descendência do Barão de Guaitacá, seu avô materno. Estélio, a propósito, sempre comentava suspiroso, num e noutro canto, que não encontraria um pretendente suficientemente desavisado, e com olfato mui defeituoso, para desposar sua filha, de temperamento difícil, de uma feiura incontestável e de tez escabiosa, sem falar no daninho hábito de banhar-se somente uma vez por semana quando nos dias mais quentes da primavera e do verão.
Castilho Todeschini, numa carta que me mostrou Adília Coutinho, poucos meses antes de ter seu nome publicado no necrológio do Diário de Notícias Gonçalense, discorreu sobre as estranhas coincidências que envolveram a morte de pai e filha, e de como a premoriência de Estélio Fagundes prestou incomensurável beneficio a Polifemo.
O homem, vou aqui generalizar, embora não seja eu adepto dessas generalizações, nunca está contente suficientemente com o que tem ou com o que é. Sempre quer mais. Há um limite, ou, pelo menos, deveria haver, é certo, na ambição, para que ela não se transforme em doença. Todavia, Polifemo nunca teve limites. Para ele, o pouco é nada, o muito é pouco e o tudo é o desejável.
Mudou-se para próximo ao paralelo 15º, porque lá é que se decidem as coisas.
Há alguns anos, conheceu o venal e corrupto juiz Rubson Almirante, que ingressou na magistratura graças aos obséquios de seu sogro, que, temendo a sorte da filha que contraíra núpcias com um ordinário advogado, deu-lhe as questões das provas.
Uma grande amizade, ou, como querem alguns, uma grande sociedade, não só na comilagem, formou-se entre Polifemo e Rubson.
Contou, certa vez, o cartunista Nilo Rabelo, numa churrascada na casa do empresário potiguar Torres da Cruz, para todos que quisessem ouvir, que Polifemo e Rubson compartilhavam o amor e a cama de Felícia Almirante, consorte do juiz larápio - além da sífilis, é claro!
Nilo Rabelo não tem mais como confirmar essa história. Morreu, alguns dias depois de revelar espinhoso segredo, quando saía de um bar na 109 Sul. Foi atropelado pelo motorista de Polifemo. Uma grande coincidência...
Com a igreja - ah! olvidei-me de dizer-vos que Polifemo fundou uma igreja neopentecostal, que, como ele mesmo dizia, era uma verdadeira mina de ouro! - arrastando a cada dia mais e mais pascácios, digo, fiéis, Polifemo resolveu entrar para a política. Candidatou-se a deputado. Foi eleito, usando assumidamente "caixa 2".
Mas, isso é de somenos. Já inclusive pediu desculpas pelo deslize, assim como pediu desculpas pelos crimes de formação de quadrilha, sonegação de impostos, receptação, estelionato, redução à condição análoga à de escravo, tráfico de entorpecentes, extorsão, constituição de milícia privada, homicídio, lenocínio, estupro de vulnerável, pedofilia, tráfico de pessoas e mais alguns outros...
Como Polifemo Almeirão, que se assume ungido por seu deus, é um patriota, é um defensor da família tradicional e da moral e dos bons costumes, tem o perdão, o beneplácito dos que também se dizem cidadãos de bem. Segue Polifemo a vida normalmente, e continua a delinquir a flux...
Bandido, para eles, cidadãos de bens, é o Sapo Barbudo!





sábado, 9 de novembro de 2019

CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Café “gourmet”
(Herbert Haeckel)


Velório é uma local de respeito a quem se desenvencilha da materialidade orgânica e experimenta novamente as sensações da verdadeira vida. A morte é um processo revolucionário, em que os despojos carnais ingressam, irremediavelmente, em curso de degradação biológica e química, causando, muita vez, o transtorno psíquico naquele que não entende, ou não quer entender, a fenomenologia da morte, diante da plenitude e da ininterrupção da vida.
Policio-me, portanto, com relação à minha conduta para com o recém desencarnado, para que eu não atrapalhe o seu trânsito em retorno à Pátria dos Espíritos.
Espero, sinceramente, que assim também ajam os que se dispuserem a velar meu corpo quando da minha Grande Viagem!
Guardando-me em preces silenciosas, em homenagem a Fortunato Modesto, que abandonara o corpo físico em razão de um susto que levou, fui interrompido por Anísia Tamarineiro, com sua peculiar deseducação. Quão efêmeros me pareceram os longos e prazerosos doze anos durante os quais eu não a vi!
Afastei-me do ataúde. Antes que eu pensasse em fugir dali, Anísia segurou-me pelo braço. Perguntou-me sobre tudo o que achava importante saber, para que, assim que saísse das exéquias de Fortunato, pudesse transformar em maledicências. Respondia-lhe sempre com um “não sei”.
Cansada, quiçá, de tanto perguntar e nada obter de resposta concreta, mudou de assunto. Lembrou-se do velório de Argemiro Borba, quando nos havíamos encontrado pela última vez. Falou-me do inesquecível café, que não cansou de beber enquanto tecia os mexericos sobre Argemiro e suas supostas teúdas e manteúdas, sob o olhar perplexo da pobre e inocente viúva, Dona Osvaldina...
Ah! O café! Elogiado por todos! Uma verdadeira delícia, segundo os presentes no velório de Argemiro! Qual o segredo de saborosíssima bebida? Confesso-vos, meus caríssimos leitores, que não bebi o café - o açúcar, para mim, altera sensivelmente o gosto da bebida. Não aprecio café adoçado. Acaso queirais oferecer-me um café, dai-mo sem açúcar, por favor!
- Pois é, Anísia... O café... Eu é que o fiz!
- Até hoje eu não me esqueço! disse-me Anísia, acenando para Santiaga Fontes, outra reconhecida mexeriqueira, chamando-a para a palestra.
- Mulher, lembra do café que bebemos no velório do depravado Argemiro Borba? Foi ele quem fez! apontando para mim.
Santiaga, que poderia eu supor ser ela a mãe da inveja, balançou a cabeça, como a duvidar. Todavia, pediu-me a receita.
- Acho improvável repetir o mesmo sabor! disse-lhes com extrema convicção... Explico: como não havia uma gota de água na casa do defunto Argemiro, usei a mesma água que banhara o cadáver, antes de colocarem-lhe a mortalha. Estava numa bacia no fundo do quintal... Peguei dessa água! Eis o segredo do inolvidável café!
Depois disso, quando elas me veem na rua, mudam de calçada.
Não pretendo contar-lhes que o defunto de Argemiro, na verdade, não foi banhado, porque a única água que havia era, justamente, para o café a ser servido no velório.
Melhor assim como está... Não correrei, pois, o risco de anojar-me de suas desagradáveis presenças!





quinta-feira, 31 de outubro de 2019

CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Quem disse que machismo é coisa só de homem?
(Herbert Haeckel)


Mamertina Gonçalo Alves é infeliz. A duplicidade de vida que escolheu ter causou-lhe, principalmente, essa infelicidade.
Ah! Dizeis-me, agora, que seu peculiar pendor para as intrigas familiares seria o motivo de todo o seu infortúnio! Inclino-me para não vos contestar integralmente, porquanto me é mais útil crer que Mamertina não é uma pessoa de má índole... É, sim, uma pobre coitada, como se costuma dizer nas cercanias. Paupérrima de espírito, apiado-me dela!
Escondia de seus pais sua condição, ou, pelo menos, pensava estar secreta para eles. Ledo engano!
Escreveu-me há alguns anos Ariano, pai de Mamertina, revelando-me suas preocupações com a desditada filha. Logo, é de supor que ele tinha plena ciência do que se passava com Mamertina. Aconselhei-o, à época, paciência e prudência, e que enxergasse a situação com naturalidade, porque assim deveria ser.
Longe do olhar fiscalizador, principalmente de seus pais, que lhe oprimia assaz, decidiu que viveria afastada do aconchego familiar. Não seria difícil, haja vista dizer que amava a família somente para inglês ver.
Novos ares, entretanto, não lhe trouxeram mudanças significativas. Continuava a ser a mesma pessoa.
Numa tarde de sábado primaveril, conheceu Amapola, formosa moça, de dulçor incomparável e de uma jovialidade impressionante. Foi encanto à primeira vista.
Assediou-a Mamertina o quanto pôde, até que Amapola não resistiu às promessas de uma vida de regalos, de abastança - ela que vinha de humílima família. Juntou, pois, seus pouquíssimos pertences e foi morar com Mamertina.
Quiçá tenha eu caído no oblívio e, involuntariamente, neguei-vos importante informação: Mamertina era machista, incuravelmente machista. Haveis de perguntar-me: como é possível uma mulher machista? O machismo não é, como podeis erroneamente supor, algo inerente ao sexo masculino. Decadente defeito, o machismo tem mais que ver com o repertório moral do indivíduo que com o seu gênero. A masculinidade tóxica não é uma exclusividade dos homens.
E, como nem tudo são flores eternamente, Amapola caiu em desgraça: quando não apanhava pela manhã, à tarde o espancamento era certo.
Sete longos anos durante, Amapola foi agredida psíquica e fisicamente por Mamertina.
Hoje, Amapola fez-se morta para Mamertina. Vive feliz noutro casamento, em que amor e respeito lhe são dados integralmente. Amapola, enfim, voltou a ter o brilho nos olhos.
Mamertina, que nunca soube o que é o verdadeiro amor, lamenta-se da sorte que a acompanha. Todavia, nada fez, nem faz, para progredir moralmente: sempre que pode, esmera-se em plantar a discórdia na família que tanto diz amar...
Paupérrima de espírito, apiado-me dela!


terça-feira, 11 de junho de 2019


CALEMBURGO

(Herbert Haeckel)

Disse-me cedo: dia de poetar!
Rabisco aqui, rabisco ali... E nada!
Lembrei-me da cana, da cana doce,
Doce mel, doce mel de uruçu...
Cana que não me calha e nem me cala...
Veio a mim um calemburgo... anotai aí:
E aquele que acha que o canalha Moro
Canalha não é – digo-vos então -
É mais canalha que o Moro canalha!

sábado, 30 de março de 2019

Quem defende a nova política?

(Herbert Haeckel)

Ouço o canto da sereia... Mergulho, desavisado que sou, nas águas tépidas à procura da bela mulher que me acenava ao longe e me enebriava com seu canto encantador...
Já próximo àquela fêmea de rosto angelical, descubro-me em terríveis e invencíveis apuros: ela não possui coxas nem pernas, mas um rabo de peixe, de cintilantes escamas. Também não sei nadar. Contristo-me. Mas, agora é tarde! Farei, desalentado, companhia à Inês...
A nova política é o sedutor canto das sereias. 
Vale-se, principalmente, dos nossos desejos mais recônditos e, outrossim, da necessidade que sentimos de experimentar o desconhecido. 
De novo, nada há, senão a impressão de nova roupagem, que já se apresenta rota mesmo antes do uso. Basta uma pequena análise para perceber que a roupa é aquele andrajo vestido pelo avesso. 
A nova política nada mais é que a velha política de privilégios, de concentração de riquezas, de liquidação (higienismo) dos miseráveis...
Ela surge num contexto de diminuição das desigualdades sociais, ainda que essa diminuição fosse quase imperceptível. 
As oligarquias nunca admitiram, e não admitirão, perder um milímetro quadrado de seu espaço. 
E para executar este intento, rostos novos, caras jovens, de sucesso (ainda que incipiente) figuram nos papéis principais e nos coadjuvantes. São esses os atores que se projetam na grande tela de nossos anseios, fazendo-nos acreditar que existe uma relação meritocrática entre o não-ter e o ter. 
Quem há de dizer que não se sentiu, ao menos por alguns segundos, hipnotizado, seduzido, pelas melódicas notas musicais saídas dos discursos desses representantes da nova política?
Todavia, não vos enganeis! 
Eles foram doutrinados exatamente para isso: para que vós os olhais com os olhos da ingenuidade e que enxergais neles a solução para os vossos problemas. Ledo engano! Com o passar do tempo, vereis, desiludidos, que vossos problemas apenas começaram...






Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.