quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Soneto 3 - Gregório de Matos

 
 
Aos 373 anos do nascimento do maior poeta barroco brasileiro: Gregório de Matos
 
Soneto 3
(Gregório de Matos) 
 
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
 
 

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dicas de Gramática


Particípio do verbo falar...

Como dissemos anteriormente, são três as formas nominais do verbo: infinitivo, gerúndio e particípio.
O nosso particípio originou-se do particípio passado latino (em Latim, eram três os particípios: passado, presente e futuro).
É utilizado geralmente com o sentido passivo, na conjugação da voz passiva (digo geralmente, porque há particípios que possuem significação ativa, quando se denominam particípios depoentes - a pessoa a que estes particípios fazem alusão pratica a ação expressa pelos particípios, em vez de receber a ação: «mulher fingida» = «mulher que finge»; «ficou calado» = «calou-se»; «seja moderado» = «tenha moderação»...).
Há verbos que possuem dois particípios (os chamados verbos abundantes): um regular (também denominado íntegro ou normal) e um irregular (contrato ou anômalo, como também é chamado). Muita vez, o que se aponta como particípio irregular é na verdade um adjetivo.

Embora não haja dificuldades em utilizar o particípio, vem crescendo um péssimo hábito de conjugá-lo de forma incorreta. Destaque para o verbo falar: Muito tenho ouvido pessoas, inclusive dentro das instituições de ensino, dizerem «eu tinha falo». O particípio do verbo falar é falado; nunca falo. Não se trata de um verbo abundante; logo, só há um, e tão-somente um, particípio: o regular.
Falo, quando verbo, é a conjugação na primeira pessoa do singular no presente do modo indicativo.
Se alguém diz «tinha falo», «falo», aí, só pode ser substantivo, nunca um verbo. E, como substantivo, falo é o órgão genital masculino. Quem diz que «tinha falo» está afirmando que «tinha órgão genital masculino», e teria, pelo menos, de explicar como o perdeu - se acidentalmente ou por opção própria...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dicas de Gramática - O pronome indefinido «todo»



Uso do indefinido «todo»...

Há gramáticos que ensinam que o pronome indefinido «todo» antecedendo o substantivo, no singular, significa «cada», quando desacompanhado do artigo; quando acompanhado do artigo, significa «inteiro».
Razão não lhes assiste. 
Ao indefinido «todo», coletivo universal que corresponde ao «omnis» (cada, qualquer) ou ao «totus» (inteiro) dos latinos, sempre pospõe o artigo, qualquer que seja o sentido que se lhe dê. O artigo é um  verdadeiro apêndice desse indefinido.
A distinção (com ou sem o artigo) não tem fundamento na língua portuguesa. É uma regra francesa [em francês, tem-se «tout», que pode significar «entier» (inteiro), se acompanhado do artigo; ou pode significar «chaque» (qualquer, cada), se desacompanhado do artigo - «tout le livre» (o livro inteiro); «tout livre» (qualquer livro)].
Destarte, deve-se, em português legítimo, escrever sempre com o apêndice articular, qualquer que seja o sentido do indefinido «todo», repita-se: «todo o homem faz sua história» (= cada homem faz sua história); «todo o homem foi queimado» (= o homem inteiro foi queimado).
Eis alguns exemplos que devem ser seguidos:
«Quando já não se acha a cura,
Toda a cura é por demais.» (Camões. El-Rei Seleuco) - qualquer cura...;
«Pode todo o homem vencer cada uma dessas mesmas tentações.» (Padre Antônio Vieira. Sermões) - qualquer homem...;
«Se todo o homem nasce de mulher e de homem.» (Padre Antônio Vieira. Sermões) -  qualquer homem nasce...;
«E que para toda a afeição, para todo o sentimento humano julgava morto o coração cenobita.» (Almeida Garret. Viagens na Minha Terra) - para qualquer afeição, para qualquer  sentimento...;
«Toda a minha vida.» (Ruy Barbosa. Cartas de Inglaterra) - minha vida inteira;
«Por toda a parte.» (Ruy Barbosa. Cartas de Inglaterra) - qualquer parte.
«...mas em todo o caso menos fria do que a princípio estivera.» (Machado de Assis. A Mão e a Luva) - em qualquer caso...;
«Todo o homem público deve ser casado,...». (Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas) - qualquer homem público...;
«...toda a gente viva do ar era da mesma opinião.» (Machado de Assis. Dom Casmurro) - qualquer gente...



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dicas de Gramática - Os erros dos jurisconsultos...



Os erros dos jurisconsultos...

«No que pertine»? Já vi em várias peças processuais (de advogados, membros do MP, juízes, procuradores...) esta aberração: «no que pertine». Acaso existiria o verbo pertinir? Não, definitivamente não há este verbo na Língua Portuguesa. Existe, sim, o verbo concernir, que é utilizado, acertadamente, na locução no que concerne (significando no que diz respeito, no que se refere, no que pertence...). Talvez, por isso, é que alguns afoitos, e por conseguinte incautos, pensam existir o verbo pertinir.
Outro verbo em que muitos juristas de tomo tombam é o subsumir. Erram, repetidamente, sua conjugação: «este fato subsume-se à regra do art. 131»... Errado!
Ora, se o verbo subsumir é derivado do verbo sumir, sua conjugação segue o mesmo paradigma. Como não se diz ele sume, também não se pode dizer subsume. Logo, corretamente se diz assim: «este fato subsome-se à regra do art. 131».


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Carminis X - Herbert Haeckel





Carminis X
(Herbert Haeckel) 

Teus olhos lacrimosos... Por que choras,
Se amor me tens e a ti amor eu tenho?
Nada deves temer se não te floras,
Se aos meus olhos és luz a que me atenho,

Se no algor temerando me acaloras,
Se nos braços teus é que me detenho,
Se tens o viço intenso das auroras,
Mesmo que o tempo atroz marque teu cenho...

Não percebes tu que vem da alma o amor
Sincero? Se mil sóis já se passaram,
Nada importa a quem ama com fervor,

Nada importa a quem ama de verdade,
Porquanto aos corações que já amaram
Não há vaidade, não há vanidade!


sábado, 28 de novembro de 2009

Dicas de Gramática - Uso dos pronomes pessoais...



«Tô com saudade de tu, meu desejo» (da música «Gostoso demais»). Apesar da liberdade poética, esta construção de tu é repugnante aos ouvidos.Tolera-se até o (em lugar de estou...), mas o pronome pessoal do caso reto eu ou tu vir regido por preposição? Não, definitivamente, não está correto! Quem diz que está com saudade de tu não sabe o que é saudade ou não tem saudade de ninguém... O correto é dizer estou com saudade de ti, porque os oblíquos, todos, sim, podem vir regidos por preposição. Da mesma forma, não se pode dizer «entre eu e ela», mas «entre mim e ela (os pronomes retos ele, nós e vós podem funcionar como regimes de preposição), «entre mim e ti», «entre ti e mim», «entre ela e mim», «entre ti e ela», «entre nós e eles»... Por este motivo, também, que se não pode dizer «esta cama é para eu», porquanto eu não pode ser regime de preposição; diz-se, então, «esta cama é para mim». Se houver um verbo no infinitivo após o pronome, o verbo é que passa a ser o regime da preposição; o pronome funciona como sujeito do infinitivo, razão pela qual somente pode vir no caso reto. Deve-se, pois, dizer «esta cama é para eu dormir» - nunca «para mim dormir», porque o oblíquo mim não pode ter função subjetiva.
E por falar em sujeito do infinitivo... Às vezes, somos surpreendidos com afirmações como esta: «vi ela sorrir». Na regra geral, os pronomes pessoais do caso reto têm sempre a função de sujeito; os do caso oblíquo têm função de complemento do verbo. Entretanto, há casos em que o pronome oblíquo desempenha a função de sujeito. Em orações em que entram os verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver, e que tenham como objeto outro verbo no infinitivo, os oblíquos são sujeitos do verbo no infinitivo - quando são denominados sujeitos acusativos. Como um pronome reto nunca, sem exceção, pode ser complemento de um verbo, a construção «vi ela sorrir» é incorreta, porque ela sorrir é complemento do verbo ver - ela é sujeito do verbo sorrir, que, por sua vez, é complemento do verbo ver. Então, deve-se assim dizer: «viu-a sorrir». Outros exemplos: «deixei-o jogar primeiro», «fi-la devolver o casaco», «mandei-os construir a casa», «ouviu-a cantar», «sentia-a aproximar», «viram-no escapar pela janela»...


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Soneto 24 - Gregório de Matos



Aos 314 anos da morte do maior dos poetas barrocos brasileiros...




Soneto 24
(Gregório de Matos)

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara?

Quem veria uma flor, que não a cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que, por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Soneto 8 - Herbert Haeckel


Soneto 8
(Herbert Haeckel)

Necrofágica larva a trabalhar, 
Pertinaz, no soturno de um carneiro...
Luta incessantemente, sem falhar,
Pela vida, na morte, o carniceiro.

Incôndito, o vermículo, a talhar
A carne putrefeita ao derradeiro
Aspeto, vai o defunto amortalhar,
Mas não pode roê-lo por inteiro...

Cadaverina, putrescina... Suma
Cadavérica, que o verme incitado
Nutre-se, de apetite mui incomum...

E não há de recusar carne alguma:
Bonito ou feio, pobre ou abastado,
Negro ou branco terá um fim comum!


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Soneto 1 - À Carolina - Machado de Assis


Soneto 1 - À CAROLINA
(Machado de Assis)

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


 

domingo, 15 de novembro de 2009

A Minha Estrela - Augusto dos Anjos


A Minha Estrela
(Augusto dos Anjos)

E eu disse - Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da Imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
- A sombra deste afeto estiolado.

Disse, e a estrela foi p'ra o Céu subindo,
Minh'alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava,
E quando ela no Azul foi-se sumindo

Surgia a Aurora - a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando
A Catedral da Grande Natureza.

Mas a noute chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E nunca mais eu vi a minha estrela!





Lirial - Augusto dos Anjos


Lirial
(Augusto dos Anjos)

Por que choras assim, tristonho lírio,
Se eu sou o orvalho eterno que te chora,
P'ra que pendes o cálice que enflora
Teu seio branco do palor do círio?!

Baixa a mim, irmã pálida da Aurora,
Estrela esmaecida do Martírio;
Envolto da tristeza no delírio,
Deixa beijar-te a face que descora!

Fosses antes a rosa purpurina
E eu beijaria a pétala divina
Da rosa, onde não pousa a desventura.

Ai! que ao menos talvez na vida escassa
Não chorasses à sombra da desgraça,
Para eu sorrir à sombra da ventura!



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eterna Mágoa - Augusto dos Anjos



Eterna Mágoa
(Augusto dos Anjos)

O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, mas o que não sabe
E que essa mágoa infinda assim não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda

Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

No Campo - Augusto dos Anjos


No Campo
(Augusto dos Anjos)

Tarde. Um arroio canta pela umbrosa
Estrada; as águas límpidas alvejam
Como cristais. Aragem suspirosa
Agita os roseirais que ali vicejam.

No alto, entretanto, os astros rumorejam
Um presságio de noute luminosa
E ei-la que assoma - a Louca tenebrosa,
Branca, emergindo às trevas que a negrejam.

Chora a corrente múrmura, e, à dolente
Unção da noute, as flores também choram
Num chuveiro de pétalas, nitente,

Pendem e caem - os roseirais descoram
E elas boiam no pranto da corrente
Que as rosas, ao luar, chorando enfloram.


 

Vencedor - Augusto dos Anjos


Vencedor
(Augusto dos Anjos)

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!


 

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Dicas de Gramática - Uso do gerúndio...


Uso do gerúndio...  

Uma das formas nominais do verbo, o gerúndio tem sido utilizado de forma incorreta. Em particular, ataca-se somente o odioso gerundismo decorrente de um anglicismo (quando se traduz o future continuous). Todavia, é prudente, também, evitar os galicismos, quando da utilização da forma gerundial.

A principal função do gerúndio, em razão da sua correspondência com o particípio presente latino, é a de adjetivo.

Outras funções são atribuídas às formas gerundiais: a) modificativo de um verbo – exercendo a função de adjunto adverbial (de modo, de causa, de concessão, de condição, de meio, de modo e de tempo), e. g. «É o que vais entender, lendo» (Machado de Assis, Dom Casmurro) ; b) para a formação de verbos perifrásticos (locuções verbais) freqüentativos – que indicam a idéia de ação continuada, e. g. «Ele vive estudando» - e incoativos – que, constituídos pelos verbos ir ou vir, junto a um gerúndio de qualquer verbo, expressam a idéia de começo ou desenvolvimento gradual de uma ação, e. g. «Ela vem vindo»; c) predicativo (pode, também, mas raramente, ser utilizado como sujeito), e. g. «Ele está estudando» (predicativo), «Prendendo-o seria cometer terrível injustiça» (sujeito); d) aposto do sujeito, e. g. «Maria, apiedando-se do sofrimento, estendeu-lhe a mão»; e) em orações reduzidas de gerúndio que correspondam ao ablativo absoluto latino, e. g. «não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua» (Machado de Assis, Dom Casmurro); e, finalmente, f) em orações em que o gerúndio for conversível em uma subordinada adverbial de tempo, iniciada pelo advérbio quando ou pelo infinitivo regido da preposição a, e. g. «Prima Glória pode ser que, em passando os dias, vá esquecendo a promessa» (Machado de Assis, Dom Casmurro).

Qualquer outra função é galicismo ou anglicismo, o que configura um erro.

As construções que têm por base a forma inglesa do future continuous não devem ser traduzidas literalmente, sob pena de cometer um dos famosos gerundismos: «I will be sending» não deve ser traduzido como «eu vou estar enviando», mas como «eu enviarei».  O future continuous é utilizado para descrever ações que ocorrerão num determinado momento no futuro, ou para perguntar sobre os planos de alguém, ou pedir informações sobre algo, de uma forma gentil – a expressão «This time tomorrow I will be working» deve ser traduzida para «Amanhã neste horário trabalharei» (e não para «Amanhã neste horário eu vou estar trabalhando»); «Will you be coming whit your mother?» deve ser traduzido para «Você virá com sua mãe?» (e não para «Você vai estar vindo com sua mãe?»).

Plenilúnio - Augusto dos Anjos


Plenilúnio
 (Augusto dos Anjos)


Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencórea lua,
Também envolta num sudário - a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!


 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Árvore da Serra - Augusto dos Anjos


A Árvore da Serra
(Augusto dos Anjos)

- As árvores, meu filho, não têm alma! 
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dicas de Gramática - Uso do infinitivo...


Uso do infinitivo...

As palavras classificam-se quanto à morfologia (função taxeonômica) e quanto à sintaxe (função sintática).
Morfologicamente, são dez as classes de palavras: substantivo, pronome, adjetivo, advérbio, verbo, preposição, conjunção, numeral, artigo e interjeição. O substantivo nomeia os seres, as coisas, as substâncias. O verbo indica a idéia de ação ou estado.
Os verbos classificam-se quanto à predicação, à voz, à flexão, à conjugação e ao processo de conjugação. As flexões verbais podem ser modais, nominais, temporais, pessoais, numerais e de voz.
A forma modal dos verbos é a maneira como a ação é expressa pelo verbo. Os modos são o indicativo, o subjuntivo e o imperativo.
Quando os verbos podem exercer a função nominal, típica dos substantivos, dos adjetivos e dos advérbios, diz-se que possuem a forma nominal. São formas nominais do verbo: o infinitivo, o particípio e o gerúndio.
O infinitivo é o próprio nome do verbo, ele indica a ação sem situá-la no tempo. São formas infinitivas: amar, comer, sair, ter, haver etc.

É constante ver pessoas utilizando mal o infinitivo. Orações como estas a seguir, apesar de comuníssimas, em que se utilizam o infinitivo no lugar de verbos na forma modal, estão erradas: «como estar você?», «o menino ler a cartilha», «eu construir uma casa», «eu sumir no salão», «ele crer na honestidade»... Correto é «como está você?», «o menino a cartilha», «eu construí uma casa», «eu sumi no salão», «ele crê na honestidade»; isto é, com os verbos conjugados na forma modal.
Há uma maneira de evitar o grave erro, quando se tem dúvida quanto à utilização da forma modal ou da nominal. Vejamo-la: substitui-se o verbo por um substantivo; se a oração tiver sentido, o verbo deve ser utilizado no infinitivo, ex: amar é bom – ao substituir o verbo amar por um substantivo qualquer, a oração não perderia o sentido (chocolate é bom; amor é bom; livro é bom...). Mas, se o verbo for modal, nenhum sentido terá quando houver a substituição do verbo por um substantivo: «ele crê na honestidade»; ao mudar o verbo por um substantivo, ver-se-á que não há sentido algum na construção – «ele pássaro na honestidade» (trocamos o verbo crer pelo substantivo pássaro, e nenhum sentido há na construção; logo, o verbo tem de vir conjugado na forma modal).


Luís Guimarães Júnior




LUÍS CAETANO PEREIRA GUIMARÃES JÚNIOR. Poeta, romancista, teatrólogo e diplomata brasileiro. Nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17 de fevereiro de 1845; morreu em Lisboa, em 20 de maio de 1898.
Aos dezesseis anos, escreveu o romance Lírio Branco, dedicado a Machado de Assis.
Iniciou o curso de Direito, em 1863, na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, SP. Bacharelou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1869, na turma de Araripe Júnior. Conviveu, quando de seus estudos no Recife, com Castro Alves e Tobias Barreto, e viu nascer a escola condoreira, da qual tomou parte.
Ainda em 1869, publicou  seu primeiro livro de poesia: Corimbos.
Foi um dos dez membros eleitos para completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, na qual criou a Cadeira n° 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.
Suas principais obras são Corimbos e Sonetos e Rimas.
Sua obra transitou do Romantismo ao Parnasianismo.



Visita à Casa Paterna

Como a ave que volta ao ninho antigo
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dicas de Gramática - Sinclitismo

Sinclitismo


Pronome é a palavra que substitui (ou pode substituir) o nome. Segundo a classificação, o pronome pode ser pessoal, demonstrativo, possessivo, indefinido, relativo e interrogativo. O pronome de tratamento é um pronome pessoal, que é a palavra ou expressão que substitui a terceira pessoa gramatical. Interessa-nos, neste momento, o pronome pessoal, que se define como sendo a palavra que, além de substituir o nome, põe-no em relação a uma pessoa gramatical. O pronome pessoal pode ser, a depender da função sintática que exerce¸ do caso reto ou do caso oblíquo. Os pronomes pessoais do caso reto têm função subjetiva, isto é, têm a função de sujeito. São pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele/ela, nós, vós e eles/elas. Os pronomes pessoais do caso oblíquo têm a função de complemento verbal. Os oblíquos podem, segundo a acentuação própria, ser classificados em tônicos e átonos (não se deve confundir acento tônico com acento gráfico; o primeiro diz respeito à sílaba que é pronunciada com maior força; o segundo, à representação gráfica da sílaba tônica, ex.: casa é uma palavra tônica, ou seja, ela é acentuada, ela possui acento tônico, localizado na penúltima sílaba; todavia, o acento tônico não é representado pelo acento gráfico; lápis, por sua vez, tem acento tônico, localizado também na penúltima sílaba, representado por um acento gráfico).Toda a palavra átona, ou seja, que não possui acentuação própria, não possui autonomia prosódica. Os pronomes oblíquos átonos não possuem, portanto, autonomia prosódica. Logo, devem vir apoiados no acento do verbo. Como regra geral, tem-se a posposição do oblíquo ao verbo, isto é, os pronomes devem ser enclíticos. As exceções levam às construções proclíticas e mesoclíticas. Há casos em que o verbo perde sua força enclítica, o que faz o pronome ser deslocado para antes do verbo (próclise) ou para o meio dele (mesóclise). Em particular, é interessante como se vê - inclusive em autores consagrados - uma comuníssima, mas errada, colocação do oblíquo: solto entre dois verbos. Ora, se os oblíquos átonos não têm autonomia prosódica, como dissemos no início, não podem vir soltos entre dois verbos, obrigando-os a apoiarem-se no acento de um dos verbos. Destarte, construções como estas são erradas: «está se formando», «vim lhe dizer», «foi me entregar», «tinha se esgotado» etc... Corretamente, escreve-se assim: «está-se formando», «vim-lhe dizer», «foi-me entregar», «mandou-te entregar», «foi-me contando», «tinha-se esgotado»... Exemplos que devem ser seguidos: «Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, ...» (Machado de Assis, Dom Casmurro), «... e redarguiu-lhe sorrindo que não tivesse medo.» (Machado de Assis, O Alienista), «... não pode deixar de ter-se desvanecido, ...» (Joaquim Nabuco, A República é incontestável), «... para conseguir fazer-se ouvir da velha ...» (Júlio Ribeiro, A Carne), «E o facies daquele sertão inóspito vai-se esboçando, lenta e impressionadoramente...»(Euclides da Cunha, Os Sertões), «Ela se abaixava, deixava-se pegar, ...» (Fernando Sabino, O Encontro Marcado)... Exemplos, pois, que não devem ser seguidos: «saber exatamente o que estava se passando em seu país e no resto do mundo» (Paulo Coelho, A Bruxa de Portobello), «Você faz parte, mas não vou lhe contar como, não tem importância.» (João Ubaldo Ribeiro, A Casa dos Budas Ditosos), «Já vem ele ali, Juca, foi se despedir da namorada...» (João Guimarães Rosa, Sagarana), «São momentos em que a "máquina da vida" parece se explicar...» (Arnaldo Jabor, Amor é prosa, sexo é poesia), «No jogo de capoeira de Angola ninguém pode se medir...» (Jorge Amado, Capitães de Areia)...




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carminis IX - Herbert Haeckel


Carminis IX
 (Herbert Haeckel)

Fez-se mulher, a amada, em meus braços sedentos. 
Seu corpo, junto ao meu, clamando o amor gentil, 
Entregou-se. Torpor mágico de acalentos, 
No desbrochar da flor virginal, o sutil

Encanto e a descoberta insonte de momentos 
Eternos... Expungido o medo assaz hostil, 
O vínculo sonhado afasta ali os tormentos, 
E o sensual amor toma-a e leva-a ao alcantil...

Espetacularmente harmônica junção, 
Corpo e corpo, alma e alma: uma, e tão-só, sensação, 
A arrebatar o peito, enchendo-o de lirismo.

E no leito sereno, em que a alma se liberta 
Do jugo tenebroso, e à vida se desperta, 
Afasta a solitude e livra-se do abismo!


sábado, 17 de outubro de 2009

Soneto 5 - Herbert Haeckel


Soneto 5
(Herbert Haeckel) 

Brandamente, descansa a pupa na crisálida...
Metamórfica larva, antes ovo, preâmbulo
Do livre voo, por sobre os lises de flor pálida,
Da imago multicor, de longínquo incunábulo!

Já livre, a borboleta, ao escapulir da sólida
Casucha, ganha o céu... Abandona alto o ergástulo...
Em ruflo vigoroso, ela, por demais lépida,
Solta-se, revelando o incomum espetáculo!

Também a alma, em seu claustro, é lá aprisionada,
Como em casulo a pupa está... Se livre voa
A borboleta ao céu, a alma, 'inda acantonada,

Aspira, mui ansiosa, ao voo em liberdade...
E do efêmero corpo, o que assaz a agrilhoa,
Desata-se, feliz, e ganha a Eternidade!


sábado, 3 de outubro de 2009

Pallida Luna - Augusto dos Anjos


Pallida Luna
(Augusto dos Anjos)

És do Passado! Vieste d'alvorada
N'asa dos elfos pela Morte espalma...
Cantas... e eu ouço esta berceuse calma
Da harpa dos mundos ideais no Nada!

Ergue o Missal brilhante de tu'alma,
Mas nessa elevação mistificada,
Vem, que eu te espero, Deusa constelada
Desce, anêmona êxul que o Céu ensalma!

Venhas e desças, Lua dos Martírios,
Desças, mas venhas pela unção dos lírios.
Visão de Ocaso de enluaradas comas,

Vaso de Unção descido dos espaços,
Para ungirmos nós dois, os nossos paços,
Na tule idealizada dos aromas.



quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pedro Kilkerry



PEDRO MILITÃO KILKERRY. Poeta simbolista brasileiro. Nasceu em Santo Antônio de Jesus, BA, em 10 de março de 1885. Faleceu, durante uma traqueostomia, em Salvador, BA, em 25 de março de 1917. Filho de um irlandês com uma baiana, Pedro Kilkerry formou-se em Direito pela Faculdade da Bahia. Nunca publicou um livro sequer.

Cérbero 

É, não vens mais aqui... Pois eu te espero,
Gele-me o frio inverno, o sol adusto
Dê-me a afeição de um tronco, a rir, vetusto
- Meu amor a ulular... E é o teu Cérbero!

É, não vens mais aqui... E eu mais te quero,
Vago o vergel, todo o pomar venusto
E a cada fruto de ouro estendo o busto,
Estendo os braços, e o teu seio espero.

Mas como pesa esta lembrança... a volta
Da aléia em flor que em vão, toda, transponho,
E onde te foste, e a cabeleira solta!

Vais corações rompendo em toda a parte!
Virá, um dia... E à porta do meu Sonho
Já Cérbero morreu, para agarrar-te.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Cartomante - Machado de Assis


Uma pequeníssima homenagem ao maior dos escritores de todos os tempos e de todos os idiomas: Machado de Assis, que fez sua viagem etérea há 101 anos.


A Cartomante
(Machado de Assis)

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.

Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita.
Odor di femmina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas
. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá,
ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá,
ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.



sábado, 12 de setembro de 2009

Auta de Souza



AUTA DE SOUZA. Nasceu em Macaíba, RN, em 12 de setembro de 1876; faleceu em Natal, em 7 de fevereiro de 1901. Poetiza brasileira, da segunda geração romântica (Ultra-Romântica, Byroniana ou Mal do Século).
Apesar de ligar-se ao Romantismo, alguns de seus poemas tinhas influência simbolista. Segundo Luís Câmara Cascudo, é a maior poetisa mística do Brasil.
Ficou órfã aos três anos. Quando tinha doze anos, seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Souza, morre em um acidente. Aos catorze anos, teve o diagnóstico de tuberculose (doença que matou seus pais). Apesar da doença, começou a escrever aos dezesseis anos.
Por volta de 1895, Auta conheceu João Leopoldo da Silva Loureiro, Promotor Público de sua cidade natal. Tiveram um namoro que durou 1 ano, quando fora, pelos irmãos, que temiam pelo seu estado de saúde, obrigada a romper o namoro. Logo depois da separação, João Leopoldo da Silva Loureiro morre vitimado pela tuberculose. Esta frustração amorosa se tornaria o quinto fator marcante de sua obra, junto à religiosidade, à orfandade, à morte trágica de seu irmão e à tuberculose.
A poetisa, então, encerrou seu primeiro livro de manuscritos, intitulado Dhálias, que mais tarde seria publicado sob o título de Horto.
Auta de Souza morreu em decorrência de tuberculose.


Num Leque

Na gaze loura d'este leque adeja
Não sei que aroma místico e encantado...
Doce morena! Abençoado seja
O doce aroma de teu leque amado!

Quando o entreabres, a sorrir, na Igreja,
O templo inteiro fica embalsamado...
Até minh'alma carinhosa o beija,
Como a toalha de um altar sagrado.

E enquanto o aroma inebriante voa,
Unido aos hinos que, no coro, entoa
A voz de um órgão soluçando dores,

Só me parece que o choroso canto
Sobe da gaze de teu leque santo,
Cheio de luz e de perfume e flores!



Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.