terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Momento Haikai III - Herbert Haeckel




Vôo Noturno - acrílica sobre tela de Orbetelli


Momento Haikai III
(Herbert Haeckel)

Um pássaro voa
Na azulada imensidade...
Voa, liberdade!


Momento Haikai II - Herbert Haeckel




Natureza Morta - pastel seco de Lourdes Collina

Momento Haikai II
(Herbert Haeckel) 

Natureza-morta...
Uma adaga, uma flor pálida:
Sangue sobre a tela.


A Alma dos Vinte Anos - Alberto de Oliveira





A Carta - óleo sobre tela de Rosah Casanova


A Alma dos Vinte Anos
(Alberto de Oliveira)

A alma dos meus vinte anos noutro dia
Senti volver-me ao peito, e pondo fora
A outra, a enferma, que lá dentro mora,
Ria em meus lábios, em meus olhos ria.

Achava-me ao teu lado então, Luzia,
E da idade que tens na mesma aurora;
A tudo o que já fui, tornava agora,
Tudo o que ora não sou, me renascia.

Ressenti da paixão primeira e ardente
A febre, ressurgiu-me o amor antigo
Com os seus desvarios e com os seus enganos...

Mas ah! quando te foste, novamente
A alma de hoje tornou a ser comigo,
E foi contigo a alma dos meus vinte anos.





Êxtase - Cruz e Souza




Espera - acrílica sobre tela de Cristiane Campos


Êxtase
(Cruz e Souza) 

Quando vens para mim, abrindo os braços
Numa carícia lânguida e quebrada,
Sinto o esplendor de cantos de alvorada
Na amorosa fremência dos teus passos. 


Partindo os duros e terrestres laços,
A alma tonta, em delírio, alvoroçada,
Sobe dos astros a radiosa escada
Atravessando a curva dos espaços. 


Vens, enquanto que eu, perplexo d'espanto,
Mal te posso abraçar, gozar-te o encanto
Dos seios, dentre esses rendados folhos. 


Nem um beijo te dou! abstrato e mudo
Diante de ti, sinto-te, absorto em tudo,
Uns rumores de pássaros nos olhos.



Momento Haikai - Herbert Haeckel




Abstrato - óleo sobre tela de Justen Vanrenolt


Momento Haikai
(Herbert Haeckel)


Andava soturno,
Com a mão no coração.
Infarto? É amor...



A Uma Dama - Gregório de Matos






Marinha Prateada - óleo sobre tela de Lourdes Collina



A Uma Dama
(Gregório de Matos)

Vês esse Sol de luzes coroado,
Em pérolas a Aurora convertida;
Vês a Lua, de estrelas guarnecida;
Vês o Céu, de planetas adornado?

O céu deixemos: vês, naquele prado,
A rosa com razão desvanecida,
A açucena por alva presumida,
O cravo por galã lisonjeado?

Deixa o prado: vem cá, minha adorada:
Vês desse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?

Parece aos olhos ser de prata fina...
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Catarina.



 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

2ª Sombra - Bárbara - Castro Alves





Dama Antiga com Plumas - óleo sobre tela de Lourdes Collina


2ª Sombra - Bárbara
(Castro Alves)

Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes níveos em lábios tão vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;


Um dorso de Valquíria... alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tão vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;


Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e músicas respira...
No lábio - um beijo... no beijar - um hino;


Harpa eólia a esperar que o vento a fira,
- Um pedaço de mármore divino...
- É o retrato de Bárbara - a Hetaira.





domingo, 24 de janeiro de 2010

Soneto 11 - Herbert Haeckel





Miragem em alto-mar - óleo sobre eucatex de Carlos Pinto


Soneto 11
(Herbert Haeckel) 

Fala-me a rosa perfumada, lírica,
Do orvalho gélido da noite escura.
Fala-me da aurora alva, assim, eufórica,
Da levíssima brisa, com candura...

Fala-me a rosa da emoção onírica,
Da paixão, dos amantes a aventura,
Fala-me das canções, da imagem feérica,
Da Lua e do Sol, com plena ternura...

Ah, rosa! Que me tens a dizer mais?
Dize-me agora onde estará aquela
Que meu coração, lúgubre, levou!

«Não posso!» - a rosa disse-me - «Jamais
Teu coração levado foi por ela...
Levaste o dela, que a ti o entregou!».





Anoitecer - Raimundo Correia





São Francisco - O Rio de Todas as Cores - óleo sobre tela de Spinelli d'Brito 


Anoitecer
(Raimundo Correia)

Esbraseia o Ocidente na Agonia
O sol... Aves, em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpuras raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra, à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.





sábado, 23 de janeiro de 2010

Ciclo - Olavo Bilac



 
Recordações - acrílica sobre tela de Orbetelli


Ciclo
(Olavo Bilac)

Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!

Dia. A flor - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!

Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!

Noite. Oh! Saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar! 



Crença - Cruz e Souza




Ocaso em Fernando de Noronha - óleo sobre tela de Spinelli d'Brito


Crença
(Cruz e Souza)

Filha do céu, a pura crença é isto
Que eu vejo em ti, na vastidão das cousas,
Nessa mudez castíssima das lousas,
No belo rosto sonhador do Cristo.

A crença é tudo quanto tenho visto
Nos olhos teus, quando a cabeça pousas
Sobre o meu colo e que dizer não ousas
Todo esse amor que eu venço e que conquisto.

A crença é ter os peregrinos olhos
Abertos sempre aos ríspidos escolhos;
Tê-los à frente de qualquer farol

E conservá-los, simplesmente acesos
Como dois fachos - engastados, presos
Nas radiações prismáticas do sol!





sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Soneto XXX - Cláudio Manuel da Costa




Campo - óleo sobre tela de Silvana Oliveira


Soneto XXX
(Cláudio Manuel da Costa) 

Não se passa, meu bem, na noite, e dia
Uma hora só, que a mísera lembrança
Te não tenha presente na mudança,
Que fez, para meu mal, minha alegria.

Mil imagens debuxa a fantasia,
Com que mais me atormenta e mais me cansa:
Pois se tão longe estou de uma esperança,
Que alívio pode dar me esta porfia!

Tirano foi comigo o fado ingrato;
Que crendo, em te roubar, pouca vitória,
Me deixou para sempre o teu retrato:

Eu me alegrara da passada glória,
Se quando me faltou teu doce trato,
Me faltara também dele a memória.



Soneto 10 - Herbert Haeckel




Perfil de Ouro Preto - acrílica sobre tela de Croskey


Soneto 10
(Herbert Haeckel) 

Sonho... Apenas um sonho, nada mais...
Via-te, linda e harmoniosa, luz
Dos olhos meus, clarão que tremeluz,
Beleza incomum, não vista jamais.

Acordei e, de tristezas abismais,
A lacerar meu peito - eis minha cruz! -,
Chorei, longe do olhar que me seduz,
Lágrimas pesarosas por demais!

Minhas noites - ah, como eu as desejo! -,
De fantasias, sonhos, que te trazem
Para junto a mim, são-me alegre festa...

Mas, ao raiar do dia, lacrimejo,
Pois os sonhos em que te vejo jazem,
Deixando-me tão-só a dor funesta!


As Montanhas II - Augusto dos Anjos




Noite nas Montanhas IV - acrílica sobre tela de Rodrigo Brasil



As Montanhas -  II
(Augusto dos Anjos)

Agora, oh! deslumbrada alma perscruta
O puerpério geológico interior,
De onde rebenta, em contrações de dor,
Toda a sublevação da crusta hirsuta!

No curso inquieto da terráquea luta
Quantos desejos férvidos de amor
Não dormem, recalcados, sob o horror
Dessas agregações de pedra bruta?!

Como nesses relevos orográfícos,
Inacessíveis aos humanos tráficos
Onde sóis, em semente, amam jazer,

Quem sabe, alma, se o que ainda não existe
Não vive em gérmen no agregado triste
Da síntese sombria do meu Ser?!



Soneto Circular - Machado de Assis




Paixão - acrílica sobre tela de Orbetelli



Soneto Circular
(Machado de Assis) 

A bela dama ruiva e descansada,
De olhos longos, macios e perdidos,
Co'um dos dedos calçados e compridos
Marca a recente página fechada.

Cuidei que, assim pensando, assim colada
Da fina tela aos flóridos tecidos,
Totalmente calados os sentidos,
Nada diria, totalmente nada.

Mas, eis da tela se despega e anda,
E diz-me: - "Horácio, Heitor, Cibrão, Miranda,
C. Pinto, X. Silveira, F. Araújo,

Mandam-me aqui para viver contigo."
Ó bela dama, a ordens tais não fujo.
Que bons amigos são! Fica comigo.




quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Noites Amadas - Auta de Souza





O Abraço da Noite - acrílica sobre tela de Orbetelli  


Noites Amadas
(Auta de Souza) 

Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh'alma canta como a sereia,
Vive cantando n'um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua! 




Soneto IX - Olavo Bilac





A Dor do Amor - óleo sobre tela de Venicio Nogueira


Soneto IX
(Olavo Bilac)

De outras sei que se mostram menos frias,
Amando menos do que amar pareces.
Usam todas de lágrimas e preces:
Tu de acerbas risadas e ironias.

De modo tal minha atenção desvias,
Com tal perícia meu engano teces,
Que, se gelado o coração tivesses,
Certo, querida, mais ardor terias.

Olho-te: cega ao meu olhar te fazes ...
Falo-te - e com que fogo a voz levanto! -
Em vão... Finges-te surda às minhas frases...

Surda: e nem ouves meu amargo pranto!
Cega: e nem vês a nova dor que trazes
À dor antiga que doía tanto!



quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Soneto LXXV - Alphonsus de Guimaraens




Quando o Sol se Vai - óleo sobre tela de Paula França


Soneto LXXV
(Alphonsus de Guimaraens)

Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusão veio animar-me.
Na minh'alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.

Ouvi gritos em mim como um alarme.
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios que vinham desolar-me.

Vi-me no cimo eterno da montanha,
Tentando unir ao peito a luz dos círios
Que brilhavam na paz da noite estranha.

Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei aos caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto...



Dona Flor - Vicente de Carvalho




As Floristas - óleo sobre tela de Carlos Pinto


Dona Flor
(Vicente de Carvalho)

Ela é tão meiga! Em seu olhar medroso
Vago como os crepúsculos do estio,
Treme a ternura, como sobre um rio
Treme a sombra de um bosque silencioso.

Quando, nas alvoradas da alegria,
A sua boca úmida floresce,
Naquele rosto angelical parece
Que é primavera, e que amanhece o dia.

Um rosto de anjo, límpido, radiante...
Mas, ai! sob êsse angélico semblante
Mora e se esconde uma alma de mulher

Que a rir-se esfolha os sonhos de que vivo
- Como atirando ao vento fugitivo
As folhas sem valor de um malmequer...





Deusa Serena - Cruz e Souza




Contemplando a Criação - óleo sobre tela de Carlos Pinto


Deusa Serena
(Cruz e Souza) 

Espiritualizante Formosura
Gerada nas Estrelas impassíveis,
Deusa de formas bíblicas, flexíveis,
Dos eflúvios da graça e da ternura.

Açucena dos vales da Escritura,
Da alvura das magnólias marcessíveis,
Branca Via-Láctea das indefiníveis
Brancuras, fonte da imortal brancura.

Não veio, é certo, dos pauis da terra
Tanta beleza que o teu corpo encerra,
Tanta luz de luar e paz saudosa...

Vem das constelações, do Azul do Oriente,
Para triunfar maravilhosamente
Da beleza mortal e dolorosa! 




O Beija-flor - Auta de Souza




Ponte para o Sonho - óleo sobre tela de Rosah Casanova  


O Beija-flor
(Auta de Souza)

Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.

Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, n'essa manhã tão fria!

Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...

Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!



Nimbos - Augusto dos Anjos




Lindo Campo Verde - óleo sobre tela de RubensVargas dos Reis 


Nimbos
(Augusto dos Anjos)

Nimbos de bronze que empanais escuros
O santuário azul da Natureza,
Quando vos vejo, negros palinuros
Da tempestade negra e da tristeza,

Abismados na bruma enegrecida,
Julgo ver nos reflexos de minh'alma
As mesmas nuvens deslizando em calma,
Os nimbos das procelas desta vida;

Mas quando o céu é límpido, sem bruma
Que a transparência tolde, sem nenhuma
Nuvem sequer, então, num mar de esp'rança,

Que o céu reflete, a vida é qual risonho
Batel, e a alma é a Flâmula do sonho,
Que o guia e o leva ao porto da bonança.




Amor e Vida - Raimundo Correia




Amor em Cádmio e Carmim - óleo sobre tela de Paula França


Amor e Vida
(Raimundo Correia)

Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.

A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!

Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!

E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! tu morrerás comigo!


 

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Beijos do Céu - Raimundo Correia




 O Beijo do Colibri - acrílica sobre tela de Orbetelli


Beijos do Céu
(Raimundo Correia)

Sonhei-te assim, ó minha amante, um dia:
- Vi-te no céu; e, anamoradamente,
De beijos, a falange resplendente
Dos serafins, teu corpo inteiro ungia...

Santos e anjos beijavam-te... Eu bem via
Beijavam todos o teu lábio ardente;
E, beijando-te, o próprio Onipotente,
O próprio Deus nos braços te cingia!

Nisto, o ciúme - fera que eu não domo -
Despertou-me do sonho, repentino
Vi-te a dormir tão plácida a meu lado...

E beijei-te também, beijei-te... e, ai! como
Achei doce o teu lábio purpurino.
Tantas vezes assim no céu beijado!




Intimidade - Antero de Quental





 A bela a beira-rio - óleo sobre tela de Carlos Pinto


Intimidade
(Antero de Quental)

Quando, sorrindo, vais passando, e toda
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda...

Anda-me às vezes a cabeca à roda,
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.

Mas é na intimidade e no segredo,
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!

E não te quero nunca tanto (ouve isto)
Como quando por ti, por mim, por Cristo,
Juras - mentindo - que me tens amor... 



Soneto - Alberto de Oliveira





Crepúsculo - óleo sobre tela de Rubens Vargas dos Reis


Soneto
(Alberto de Oliveira)

Agora é tarde para novo rumo
Dar ao sequioso espírito; outra via
Não terei de mostrar-lhe e à fantasia
Além desta em que peno e me consumo.

Aí, de sol nascente a sol a prumo,
Deste ao declínio e ao desmaiar do dia,
Tenho ido empós do ideal que me alumia,
A lidar com o que é vão, é sonho, é fumo.

Aí me hei de ficar até cansado
Cair, inda abençoando o doce e amigo
Instrumento em que canto e a alma me encerra;

Abençoando-o por sempre andar comigo
E bem ou mal, aos versos me haver dado
Um raio do esplendor de minha terra.





sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A Cavalgada - Raimundo Correia




Caminhos do Rio Grande - óleo sobre tela de Douglas Biondo


A Cavalgada
(Raimundo Correia)

A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce,
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha... 






quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Soneto II - Alphonsus de Guimaraens




Adormecida - óleo sobre tela de A. Naranjo 


Soneto II
(Alphonsus de Guimaraens)

Celeste... É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste...
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste... E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.


  

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um Beijo - Olavo Bilac




Divas da Paixão - acrílica sobre tela de Orbetelli


Um Beijo
(Olavo Bilac)

Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...






terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tudo Passa - II - Auta de Souza



Complexidades - óleo sobre tela de Antonio Guimarães



Tudo Passa - II
(Auta de Souza)

O coração não morre: ele adormece...
E antes morresse o coração traído,
Mulher que choras teu amor perdido,
Amor primeiro que não mais se esquece!

Quando tu vais rezar, quando anoitece,
Beijas as contas do colar partido;
E o coração n'um trêmulo gemido
Vem perturbar a paz de tua prece.

Reza baixinho, ó noiva desolada!
E quando, à tarde, pela mesma estrada
Chorando fores esse imenso amor...

Geme de manso, juriti dolente!
Vais acordar o coração doente...
Não o despertes para nova dor. 


 

Soneto 10 - Idílio - Antero de Quental






Caminho - óleo sobre tela de Silvana Oliveira


Idílio
(Antero de Quental)

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.


 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Soneto 9 - Herbert Haeckel





 
Repouso da Florista - óleo sobre tela de Carlos Pinto


 Soneto 9
(Herbert Haeckel)

Abscesso, malitagra, bacilose,
Desnutrição, nefrólise, histeria,
Lipoma, neurinoma, pulicose,
Ofíase, escorbuto, difteria...

Conjuntivite, botulismo, artrose,
Bronquite... Jamais nada me doeria!
Eis meu corpo, esculápio!... Então já cose
As feridas do amor que me feria,

Cura as chagas do amor que me açoitava,
Excisa o amor que tanto me afligia,
Salva-me desta prisão que me atava...

Não podes? Eu bem sei... Porquanto o amor,
Esta insondável e incomum magia,
Não é mais que tirânico temor!




domingo, 3 de janeiro de 2010

Soneto 6 - A Janela e o Sol - Alberto de Oliveira




 Amanhecer - acrílica sobre tela de Vera Prestes



A Janela e o Sol
(Alberto de Oliveira)

«Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.

Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende...
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.»


E, fechando mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: «Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me!

E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!»


 

sábado, 2 de janeiro de 2010

Velho Tema II - Vicente de Carvalho



 
A Bela - óleo sobre tela de Di Magalhães


Velho Tema II
(Vicente de Carvalho)

Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.

Quero que meu amor se te apresente
- Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.

Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece: eu te amo, o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.

Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do te beijo.


 

Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.