quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Nem tudo que cai da goiabeira é goiaba
(Herbert Haeckel)

Clarisvalda do Espírito Santo abandonou o serviço público, em que mais desserviu do que serviu, e foi pregar a palavra de “God” - não vos espanteis, caríssimos leitores, mas ela anglicizava tudo!
Dizia-se messiânica - na verdade, “messianic”.
Convenhamos, não era ela muito bem querida na sociedade. Recebeu algumas pedras, inclusive de quem também havia pecado. Mas, quem sou eu para julgar?
Sua vida mudou, da água para o vinagre, quando vinha caminhando, depois de exaustiva pregação, tarde da noite, para sua casa, no Alto da Soledade.
Começou de sentir as entranhas dominarem seus sentidos. Uma dor terrível parecia cortar seu abdômen. A comida não lhe fizera muito bem.
Aproximou-se de uma goiabeira. Ouviu o chamado intestino. Seria ali mesmo. Mas, havia ainda transeuntes.
Outra vez a voz intestina manifestava-se, já com uma certa rebeldia, e dizia que subisse prontamente na goiabeira. Subiu, com uma destreza nunca antes vista. Aprumou-se num galho - que se envergou, em resposta ao sobrepeso, mas que não se rompeu. As dores pulsantes vinham cada vez mais fortes. Suava frio. Rezou. Torceu-se. Contorceu-se. Tanta era a dor que jura ter visto o Cão chupando manga no alto da goiabeira. Não suportou, por fim. De lá, despejou aquilo que lhe servira de mantimento outrora.
Todavia, nem tudo são flores. Alívio de um lado, desespero de outro. No exato momento em que a matéria fecal liquefeita obedecia aos desígnios da lei da gravidade, passava o clérigo Timóteo Avelino, portando sua recente tonsura.
Todo lambuzado, Timóteo, furibundo, perguntou, aos berros, quem estava no alto do pé de goiaba.
Um arrulhar desafinado ouviu-se. Clarisvalda tentava imitar um pombo. Não foi convincente.
Timóteo tornou a perguntar, já com ameaças, quem estava no alto da goiabeira.
Uma voz estilizada de criança foi, então, ouvida:
- É o bichinho da goiaba! Comi uma goiaba podre que me deu dor de barriga! - disse-lhe Clarisvalda.
Vendo que com enganos lhe era assim negada a verdade, Timóteo sacou um revólver e deu um tiro para o alto. Não atingiu ninguém.
Com o susto, Clarisvalda despencou da goiabeira. No chão, com as calçolas nos tornozelos e as saias amarradas acima do umbigo, ficou com as vergonhas ao vento.
Desde então, Clarisvalda, por força do ocorrido, virou “bichinho da goiaba podre”. Tentou continuar nas pregações. Não foi possível.
Depois que Felisberto Cupertino me narrou este acontecido, quem me conhece sabe que uma cautela carrego comigo: não passo debaixo de árvore sem antes averiguar se há ou não um esfíncter anal pronto para atacar!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Tal como uma luva
(Herbert Haeckel)

Costuma-se a associar o nome de algo ou uma característica às pessoas que se conhece. É quase instantâneo e natural. Talvez, seja uma forma mnemônica, para não olvidar o nome de alguém. Quão constrangedor é esquecer o nome de alguém!
Certa feita, vou-vos contar, encontrei-me com uma colega dos tempos primevos de escola. Ela lembrou-se de meu nome. E eu, do nome dela, não. No auge da palestra, ela perguntou-me, desconfiada, se eu me lembrava de seu nome. Disse-lhe que sim, a mentir. Perguntou-me qual era. Respondi-lhe, de chofre: não sei! Que vergonha...
Hoje, sempre que necessário, faço a aludida associação, para não ser, novamente, traído pelo olvido.
Alsuc Aranjuez possuía hábitos diferentes. Não era adepto das leituras. Logo cedo, conseguiu criar um subterfúgio para não frequentar a escola - introduzia um dente de alho entre uma nádega e outra, e ardia em febre; conclusão a que chegaram seus pais: a escola poderia ser mortal para Alsuc. Tiraram-no, pois, da escola.
Foi crescendo, acostumando-se a ter tudo nas mãos, sem esforço qualquer. Se se via contrariado, apelava para o alho! E haja antipirético!
Confidenciou-me Antero Farabeuf, esculápio que acompanhou o caso de Alsuc, ser um mistério para a medicina. Nada lhe disse. Ri.
Chegada a hora de começar a trabalhar, empregou-se na mercearia de Castorino Flores. Quando não estava com febre, passava quase que o dia todo deitado por sobre sacos de farinha. Castorino despediu-o no segundo mês. Durou até muito tempo!
Com muita luta - dos pais, obviamente - conseguiu Alsuc outro emprego: na farmácia de Ana Tolentino. Não passou de uma semana! Foi colocado para fora.
Havia uma coisa que Alsuc fazia muito bem, além de dormir: comer.
Ganhou peso. O joelho valgo evidenciou-se. Vivia a queixar-se das assaduras na região pudenda.
Para a sociedade, era imperativo transparecer que era um ser humano normal, trabalhador. Sem ter onde mais trabalhar, Alsuc teve a ideia de assessorar sua mãe, nas tarefas de casa, recebendo, para tanto, um salário capaz de cobrir suas despesas - como vos falei, era um legítimo glutão! Amava as guloseimas!
Um trabalho, digamos, não muito extenuante: acender os queimadores do fogão. Era-lhe, por sinal, agradável função, haja vista a piromania herdada da mãe.
Pois bem, amigos, como vos falei alhures, passei a associar, sempre que possível, algum atributo a certas pessoas... E toda a vez que ouço a palavra “inútil” lembro-me, instantaneamente, de Alsuc Aranjuez.
Cabe-lhe como uma luva!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

Santa inocência
(Herbert Haeckel)

Há quem diga que não existem coincidências. Eu creio nelas piamente. 
Não gosto de misticismo. Nem de mitos!
Porém, estou convencido de que quando a fé não remove montanhas ela abre um túnel que as atravessa.
Acabei de almoçar e recebi a ligação de Judas Hermengardo.
Pensei nele dias atrás. Daí, a coincidência.
Conversa vai, conversa vem, e eu a impacientar-me com Hermengardo. Prezo muito o meu tempo. Quem me conhece sabe que não sou devotado a ficar mais do que dois minutos numa ligação telefônica. Telefone, entendo eu, é para um recado brevíssimo. Quereis conversar? Marcai um encontro!
Já estourado o meu tempo limite e iniciada a dormência no pavilhão auricular, perguntei-lhe o porquê da ligação.
- Eu cometi uma injustiça com a minha mulher - disse-me ele.
Nestas horas, por mais cauteloso e otimista que alguém possa ser, somente as desgraças é que vêm ao pensamento!
- Não me diga que vosmecê atentou contra a integridade física dela...
- Não! Jamais! Minha mulher é tudo para mim - falou-me, com uma certa candura, que até me comoveu...
Foi quando, admito, uma lágrima rolou-me à face. Quem não ficaria emocionado com tão singular declaração?
- Eu desconfiei que o meu filho não era meu filho. Pedi um exame de DNA.
Neste momento, confesso que gelei! Não, não, meus diletos leitores, não é o que vós estais a pensar! A minha reação foi em decorrência do que Calixto Fagundes soltou, no pileque que tomou na casa de Altino Belmonte, há uns dois anos.
Hermengardo mostrou-se profundamente amargurado por, segundo ele, ter duvidado, apesar de tudo, da esposa. Deu-me detalhes acerca do exame, após eu acionar o alto-falante do telemóvel para ouvir a conversa à distância.
Em resumo: no dia do exame, a mulher de Hermengardo sugeriu que seu primo, Calixto Fagundes, doasse o material para exame, uma vez que Hermengardo tinha um verdadeiro e incontrolável pavor por agulhas e assemelhados.
Hermengardo concordou, feliz, assim me disse ele, pela preocupação e zelo com que sua devotada e doutrinada esposa o tratava...
Assim que saiu o resultado, Hermengardo ligou-me. Pediu-me conselho, orientação para lidar com a situação.
- O filho é meu! Deu positivo! Como pude desconfiar dela? - disse-me Hermengardo, numa mistura de euforia e de preocupação.
Fiquei sem saber o que dizer.
Em seguida, falei-lhe que deveria pedir desculpas a ela - não lhe disse que o motivo das desculpas era por ser tão estulto!
Era o mínimo que eu poderia fazer.
E assim como Judas Hermengardo acredita que o filho é seu, há muitos descurados que ainda acreditam na honestidade do capitão...
E viva a santa inocência!



CRÔNICAS - Herbert Haeckel

De pai para filho
(Herbert Haeckel)

Depois de flagrar sua doutrinada esposa com outro no sofá da sala, Judas Hermengardo tomou duas providências, que, sob a sua caolha ótica, eram imperativas para, não sei bem se o termo correto seria este, evitar uma nova traição da estimada consorte: lançou o sofá no meio da rua, ateando-lhe fogo, e comprou um par de luvas de boxe - não, amigos leitores, não tinham as luvas por escopo serem utilizadas para bater na mulher, mas para evitar uma fratura na mão, acaso houvesse necessidade de esmurrar a parede, como de cotio!
Ah! Vede só como são as coisas: ia-me esquecendo de dizer, o mais importante quiçá, que Judas Hermengardo matriculou sua esposa num curso de corte e costura, no Centro de Educação para o Lar Helenita Serrão Madureira! Aulas noturnas. Eram mais em conta! Dar-lhe uma ocupação, para que, quem sabe, ela se esquecesse de pular o cercado.
Alguns meses depois, uns três, quero crer, Hermengardo liga-me, dizendo necessitar de um obséquio. Fui ao seu encontro.
Pediu-me que fosse à escola para verificar a frequência da esposa, uma vez que lhe foram mexericar que ela chegava a casa, à noite, depois da aula de corte e costura, todos os dias, em companhia de um homem, que a deixava na esquina, a uns cinquenta metros de sua porta.
Fui. Com ele ao lado.
Ao entregar-nos a lista de presença, a responsável pela escola disse-nos que nunca havia visto a esposa de Hermengardo. Nem poderia ter visto. Nunca foi às aulas...
Notei um certo desconforto em Judas Hermengardo.
- Ela não gosta de corte e costura. Eu deveria tê-la matriculado no curso de bordados! Ou de pintura! - disse ele, num indisfarçável constrangimento, muito embora eu acredite que de pintura aulas ela não necessite: já é experta em pintar o sete!
Em seguida, completou, sem que nada lhe houvesse sido perguntado:
- Minha avó Matilde traiu meu avô Jeremias... Ele é chifrudo igual ao meu pai.
Compreendi a situação como um atípico caso de hereditariedade - uma linhagem dessas não se vê a todo o instante... É um caso digno de estudo!
Compreendi também que o cerne do problema não é ser corno: é ser corno sozinho!



Pensamentos...



«Mesmo a mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração.» (Kant)

«Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.» (William Hazlitt)

«Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela.» (Confúcio)

«A água corre tranqüila quando o rio é fundo.» (William Shakespeare)

«O repouso é bom, mas o tédio é irmão do repouso.» (Voltaire)

«Você será avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos. Será vaidoso se conviver com homens arrogantes. Jamais se livrará da crueldade se compartilhar sua casa com um torturador. Alimentará sua luxúria confraternizando-se com os adúlteros. Se quer livrar-se de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo dos viciados.» (Sêneca)

«É extremamente fácil enganar a si mesmo, pois o homem geralmente acredita no que deseja» (Demóstenes)

«Precisamos parecer um pouco com os outros para compreender os outros, mas precisamos ser um pouco diferentes para amá-los.» (Paul Géraldy)

«O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.» (Isaac Newton)

«Na atual sociedade, em que os valores estão invertidos, o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive a verdade, a amizade e o amor. Mas, findo o dinheiro, esgotam-se, também, e ao mesmo tempo, as verdades, as amizades e os amores por ele comprados.» (Herbert Haeckel)

Curiosidades

Calcula-se que há 100 milhões de insetos para cada ser humano.

A maior borboleta do mundo é a Queen Alexandra Birdwing, encontrada numa pequena área da floresta tropical no norte da Papua Nova Guiné. A fêmea, que é maior que o macho, pode chegar a 31 cm de envergadura e ter massa de até 12kg. Está ameaçada de extinção, em razão da destruição de seu habitat natural.

O órgão sexual da aranha macha está localizado no final de uma de suas patas.

As abelhas possuem cinco olhos; três pequenos no topo da cabeça e os dois maiores na frente.

Alguns insetos conseguem viver até um ano sem a cabeça.

Uma barata pode viver até 6 dias sem a cabeça; acaba morrendo de fome, porque não tem como se alimentar.

As formigas comunicam-se por meio do olfato.

Mosquitos são atraídos duas vezes mais pela cor azul do que por qualquer outra cor.

O inseto com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo é a formiga.

Os mosquitos fêmeos chupam o sangue, porque necessitam das proteínas para desenvolver os ovos que carregam.

Uma asa de mosquito move-se mil vezes a cada segundo.

As moscas domésticas vivem apenas 2 semanas.

Os mosquitos causaram mais mortes do que todas as guerras juntas.

A luz dos vaga-lumes é produzida pela oxidação de uma substância química chamada luciferina na presença de uma enzima chamada luciferase, de ATP (fonte de energia) e de magnésio. A cor e o ritmo da luz variam de acordo com a espécie. O animal pode controlar a produção, a duração e a intermitência (quantas vezes acende e apaga) da luz. A luminescência é um aviso aos inimigos para que se afastem. Nos adultos, também tem a função de atrair a fêmea para o acasalamento.