CRÔNICAS - Herbert Haeckel
Santa inocência
(Herbert Haeckel)
Há quem diga que não existem coincidências. Eu creio nelas piamente.
Não gosto de misticismo. Nem de mitos!
Porém, estou convencido de que quando a fé não remove montanhas ela abre um túnel que as atravessa.
Acabei de almoçar e recebi a ligação de Judas Hermengardo.
Pensei nele dias atrás. Daí, a coincidência.
Conversa vai, conversa vem, e eu a impacientar-me com Hermengardo. Prezo muito o meu tempo. Quem me conhece sabe que não sou devotado a ficar mais do que dois minutos numa ligação telefônica. Telefone, entendo eu, é para um recado brevíssimo. Quereis conversar? Marcai um encontro!
Já estourado o meu tempo limite e iniciada a dormência no pavilhão auricular, perguntei-lhe o porquê da ligação.
- Eu cometi uma injustiça com a minha mulher - disse-me ele.
Nestas horas, por mais cauteloso e otimista que alguém possa ser, somente as desgraças é que vêm ao pensamento!
- Não me diga que vosmecê atentou contra a integridade física dela...
- Não! Jamais! Minha mulher é tudo para mim - falou-me, com uma certa candura, que até me comoveu...
Foi quando, admito, uma lágrima rolou-me à face. Quem não ficaria emocionado com tão singular declaração?
- Eu desconfiei que o meu filho não era meu filho. Pedi um exame de DNA.
Neste momento, confesso que gelei! Não, não, meus diletos leitores, não é o que vós estais a pensar! A minha reação foi em decorrência do que Calixto Fagundes soltou, no pileque que tomou na casa de Altino Belmonte, há uns dois anos.
Hermengardo mostrou-se profundamente amargurado por, segundo ele, ter duvidado, apesar de tudo, da esposa. Deu-me detalhes acerca do exame, após eu acionar o alto-falante do telemóvel para ouvir a conversa à distância.
Em resumo: no dia do exame, a mulher de Hermengardo sugeriu que seu primo, Calixto Fagundes, doasse o material para exame, uma vez que Hermengardo tinha um verdadeiro e incontrolável pavor por agulhas e assemelhados.
Hermengardo concordou, feliz, assim me disse ele, pela preocupação e zelo com que sua devotada e doutrinada esposa o tratava...
Assim que saiu o resultado, Hermengardo ligou-me. Pediu-me conselho, orientação para lidar com a situação.
- O filho é meu! Deu positivo! Como pude desconfiar dela? - disse-me Hermengardo, numa mistura de euforia e de preocupação.
Fiquei sem saber o que dizer.
Em seguida, falei-lhe que deveria pedir desculpas a ela - não lhe disse que o motivo das desculpas era por ser tão estulto!
Era o mínimo que eu poderia fazer.
E assim como Judas Hermengardo acredita que o filho é seu, há muitos descurados que ainda acreditam na honestidade do capitão...
E viva a santa inocência!
Não gosto de misticismo. Nem de mitos!
Porém, estou convencido de que quando a fé não remove montanhas ela abre um túnel que as atravessa.
Acabei de almoçar e recebi a ligação de Judas Hermengardo.
Pensei nele dias atrás. Daí, a coincidência.
Conversa vai, conversa vem, e eu a impacientar-me com Hermengardo. Prezo muito o meu tempo. Quem me conhece sabe que não sou devotado a ficar mais do que dois minutos numa ligação telefônica. Telefone, entendo eu, é para um recado brevíssimo. Quereis conversar? Marcai um encontro!
Já estourado o meu tempo limite e iniciada a dormência no pavilhão auricular, perguntei-lhe o porquê da ligação.
- Eu cometi uma injustiça com a minha mulher - disse-me ele.
Nestas horas, por mais cauteloso e otimista que alguém possa ser, somente as desgraças é que vêm ao pensamento!
- Não me diga que vosmecê atentou contra a integridade física dela...
- Não! Jamais! Minha mulher é tudo para mim - falou-me, com uma certa candura, que até me comoveu...
Foi quando, admito, uma lágrima rolou-me à face. Quem não ficaria emocionado com tão singular declaração?
- Eu desconfiei que o meu filho não era meu filho. Pedi um exame de DNA.
Neste momento, confesso que gelei! Não, não, meus diletos leitores, não é o que vós estais a pensar! A minha reação foi em decorrência do que Calixto Fagundes soltou, no pileque que tomou na casa de Altino Belmonte, há uns dois anos.
Hermengardo mostrou-se profundamente amargurado por, segundo ele, ter duvidado, apesar de tudo, da esposa. Deu-me detalhes acerca do exame, após eu acionar o alto-falante do telemóvel para ouvir a conversa à distância.
Em resumo: no dia do exame, a mulher de Hermengardo sugeriu que seu primo, Calixto Fagundes, doasse o material para exame, uma vez que Hermengardo tinha um verdadeiro e incontrolável pavor por agulhas e assemelhados.
Hermengardo concordou, feliz, assim me disse ele, pela preocupação e zelo com que sua devotada e doutrinada esposa o tratava...
Assim que saiu o resultado, Hermengardo ligou-me. Pediu-me conselho, orientação para lidar com a situação.
- O filho é meu! Deu positivo! Como pude desconfiar dela? - disse-me Hermengardo, numa mistura de euforia e de preocupação.
Fiquei sem saber o que dizer.
Em seguida, falei-lhe que deveria pedir desculpas a ela - não lhe disse que o motivo das desculpas era por ser tão estulto!
Era o mínimo que eu poderia fazer.
E assim como Judas Hermengardo acredita que o filho é seu, há muitos descurados que ainda acreditam na honestidade do capitão...
E viva a santa inocência!
Nenhum comentário:
Postar um comentário