CRÔNICAS - Herbert Haeckel
Olindo Aroeira
(Herbert Haeckel)
Arrisco-me a dizer que o amor é a síntese do otimismo.
Olindo Aroeira nasceu causando choque. Espanto.
O obstetra quase o deixa cair após tirá-lo do ventre materno e assustar-se ao fitá-lo. Era por demais feio. Nasceu com os olhos arregalados. A enfermeira, ao pegá-lo para a pesagem, não se conteve:
- Jesus, Maria e José! O que é isso?
Seus pais convergiam para o senso comum naquele momento. Por isso, e muito mais ainda por amor, deram-lhe o nome Olindo.
- Pelo menos, alguma coisa bonita ele terá...
Olindo Aroeira nunca chorou na vida. Nunca precisou. Por extrema cautela, seus pais faziam-lhe todas as vontades. Previam seus desejos. Não queriam ter a experiência de vê-lo chorar. Era arriscado.
Quando chegou a idade para ir à escola, Olindo Aroeira foi matriculado no Grupo Escolar Professora Maria Taubaté. No terceiro dia de aula, a diretora foi pessoalmente à casa de Olindo recomendar que não o levassem mais para a escola. Vou abrir um parêntese aqui: no segundo dia de aula, foi registrada uma evasão de 99,95% dos alunos. Fecho o parêntese.
Sugeriu a diretora um método que, segundo ela, seria introduzido uns setenta anos depois: ensino à distância, desde o primário até a universidade. Advirto-vos que naquela época o que se chama hoje “fundamental” era o curso primário.
E assim Olindo foi educado.
Seus pais, seus mestres.
Passou pelo Curso de Admissão, pelo Ginasial... Tudo em casa!
Eis que chegou a hora de ingressar na universidade... Olindo optou por fazer filosofia. Dizia ser sua paixão. Diplomou-se filósofo. Em casa. Aluno laureado.
Logo depois, talvez por estar cumprida a missão, seus pais descansaram os olhos para sempre.
Olindo estava só. Não lhe fez muita diferença. Nunca teve amigos. Fez do cigarro seu companheiro inseparável. Até os dias de hoje.
Iniciou sua carreira de professor de filosofia inaugurando um curso por correspondência. Literalmente.
Enviava aos seus, inicialmente poucos, alunos cartas com as assuntos que ministrava.
Olindo discordava de tudo.
Certa vez, escreveu uma carta - gostava de cartas, bilhetes, telegramas... - ao senador Altamiranelson Araucária, sugerindo-lhe um projeto de lei que revogasse as Leis de Newton.
Como resposta, o senador Araucária disse-lhe que não seria prudente mexer com alguém do quilate de “Nilton” (foi assim mesmo que o senador grafou), mas que faria todo o esforço para que as “leis de Nilton” fossem “mais brandas”.
Olindo Aroeira afirma, até hoje, que a Terra é plana e é o centro do Universo.
Diz que quem usa incenso é “esquerdopata comunista”, e que tem certeza de que Gaspar, o rei mago de vinte e poucos anos que levou incenso ao Menino Jesus, era comunista.
Com a modernidade, veio a internet. Olindo adaptou-se bem à nova condição.
Sem nunca ter pisado numa sala de aula, continua a dar aulas... Agora, pela internet. Autodenomina-se “professor Olindo Aroeira, o filósofo”.
E como eu já disse noutra ocasião, há sempre um tolo a depositar noutro tolo a sua confiança.
Há sempre um tolo a chamar um outro tolo por “professor”... e “filósofo”!
Olindo Aroeira nasceu causando choque. Espanto.
O obstetra quase o deixa cair após tirá-lo do ventre materno e assustar-se ao fitá-lo. Era por demais feio. Nasceu com os olhos arregalados. A enfermeira, ao pegá-lo para a pesagem, não se conteve:
- Jesus, Maria e José! O que é isso?
Seus pais convergiam para o senso comum naquele momento. Por isso, e muito mais ainda por amor, deram-lhe o nome Olindo.
- Pelo menos, alguma coisa bonita ele terá...
Olindo Aroeira nunca chorou na vida. Nunca precisou. Por extrema cautela, seus pais faziam-lhe todas as vontades. Previam seus desejos. Não queriam ter a experiência de vê-lo chorar. Era arriscado.
Quando chegou a idade para ir à escola, Olindo Aroeira foi matriculado no Grupo Escolar Professora Maria Taubaté. No terceiro dia de aula, a diretora foi pessoalmente à casa de Olindo recomendar que não o levassem mais para a escola. Vou abrir um parêntese aqui: no segundo dia de aula, foi registrada uma evasão de 99,95% dos alunos. Fecho o parêntese.
Sugeriu a diretora um método que, segundo ela, seria introduzido uns setenta anos depois: ensino à distância, desde o primário até a universidade. Advirto-vos que naquela época o que se chama hoje “fundamental” era o curso primário.
E assim Olindo foi educado.
Seus pais, seus mestres.
Passou pelo Curso de Admissão, pelo Ginasial... Tudo em casa!
Eis que chegou a hora de ingressar na universidade... Olindo optou por fazer filosofia. Dizia ser sua paixão. Diplomou-se filósofo. Em casa. Aluno laureado.
Logo depois, talvez por estar cumprida a missão, seus pais descansaram os olhos para sempre.
Olindo estava só. Não lhe fez muita diferença. Nunca teve amigos. Fez do cigarro seu companheiro inseparável. Até os dias de hoje.
Iniciou sua carreira de professor de filosofia inaugurando um curso por correspondência. Literalmente.
Enviava aos seus, inicialmente poucos, alunos cartas com as assuntos que ministrava.
Olindo discordava de tudo.
Certa vez, escreveu uma carta - gostava de cartas, bilhetes, telegramas... - ao senador Altamiranelson Araucária, sugerindo-lhe um projeto de lei que revogasse as Leis de Newton.
Como resposta, o senador Araucária disse-lhe que não seria prudente mexer com alguém do quilate de “Nilton” (foi assim mesmo que o senador grafou), mas que faria todo o esforço para que as “leis de Nilton” fossem “mais brandas”.
Olindo Aroeira afirma, até hoje, que a Terra é plana e é o centro do Universo.
Diz que quem usa incenso é “esquerdopata comunista”, e que tem certeza de que Gaspar, o rei mago de vinte e poucos anos que levou incenso ao Menino Jesus, era comunista.
Com a modernidade, veio a internet. Olindo adaptou-se bem à nova condição.
Sem nunca ter pisado numa sala de aula, continua a dar aulas... Agora, pela internet. Autodenomina-se “professor Olindo Aroeira, o filósofo”.
E como eu já disse noutra ocasião, há sempre um tolo a depositar noutro tolo a sua confiança.
Há sempre um tolo a chamar um outro tolo por “professor”... e “filósofo”!
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