CRÔNICAS - Herbert Haeckel
Para inglês ver
(Herbert Haeckel)
Pedro Pedreira não era de pedra. Fazia-se tal qual.
No aconchego do lar, era um líder tirano. Acreditava terem-lhe respeito, mas era temor. Acreditava ser amado, mas era submissão. De esposa e filhos.
Na sala de aula, cuja cátedra lhe caiu no colo, graças a seu padrinho Coriolano Peixoto, esmerava-se na tirania.
Não tive o desprazer de tê-lo como mestre. Desprazer nem tanto pelo seu caráter perseguidor, seu invariável mau-humor, sua intolerância, sua rabugice; mas pela pouca ciência que possuía.
Todavia, conhecia-o bem. Tão bem a ponto de vir-me à boca - como dizia Augusto dos Anjos - uma “ânsia análoga à ânsia que sobe à boca de um cardíaco”, toda a vez que com Pedreira eu me punha próximo. Meu ofício empurrava-me para este desagradável convívio. Fazer o quê? Nada mais adequado que o adágio popular “o que não tem remédio remediado está!”...
Enquanto eu aguardava sentado num canapé na área vestibular do seu gabinete, eis que irrompe no recinto, furioso, Coriolano Peixoto. Olvidou-se de fechar a porta. Ficou às escâncaras.
Pedro Pedreira, prontamente, levantou-se de sua cadeira. Cogitei: vai dar merda!
- Por que você fez isso? - perguntou-lhe Peixoto, sacudindo um jornal.
- Eu pensei... - mal Pedro Pedreira iniciava a frase e foi abruptamente interrompido.
- Quem você pensa que é para achar que pode pensar, seu mulatinho pernóstico? - aos berros e gesticulando excessivamente.
Pedro Pedreira, que se fazia de pedra, era pedra para inglês ver.
Humildemente, pediu permissão e arqueou-se para pegar a dentadura que com a bofetada lhe voara da boca.
Naquele momento, vi Pedro Pedreira docilmente abanar o rabo, como um cão que quer agradar ao dono, numa demonstração inequívoca de deprimente subserviência. E covardia.
No aconchego do lar, era um líder tirano. Acreditava terem-lhe respeito, mas era temor. Acreditava ser amado, mas era submissão. De esposa e filhos.
Na sala de aula, cuja cátedra lhe caiu no colo, graças a seu padrinho Coriolano Peixoto, esmerava-se na tirania.
Não tive o desprazer de tê-lo como mestre. Desprazer nem tanto pelo seu caráter perseguidor, seu invariável mau-humor, sua intolerância, sua rabugice; mas pela pouca ciência que possuía.
Todavia, conhecia-o bem. Tão bem a ponto de vir-me à boca - como dizia Augusto dos Anjos - uma “ânsia análoga à ânsia que sobe à boca de um cardíaco”, toda a vez que com Pedreira eu me punha próximo. Meu ofício empurrava-me para este desagradável convívio. Fazer o quê? Nada mais adequado que o adágio popular “o que não tem remédio remediado está!”...
Enquanto eu aguardava sentado num canapé na área vestibular do seu gabinete, eis que irrompe no recinto, furioso, Coriolano Peixoto. Olvidou-se de fechar a porta. Ficou às escâncaras.
Pedro Pedreira, prontamente, levantou-se de sua cadeira. Cogitei: vai dar merda!
- Por que você fez isso? - perguntou-lhe Peixoto, sacudindo um jornal.
- Eu pensei... - mal Pedro Pedreira iniciava a frase e foi abruptamente interrompido.
- Quem você pensa que é para achar que pode pensar, seu mulatinho pernóstico? - aos berros e gesticulando excessivamente.
Pedro Pedreira, que se fazia de pedra, era pedra para inglês ver.
Humildemente, pediu permissão e arqueou-se para pegar a dentadura que com a bofetada lhe voara da boca.
Naquele momento, vi Pedro Pedreira docilmente abanar o rabo, como um cão que quer agradar ao dono, numa demonstração inequívoca de deprimente subserviência. E covardia.
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