Soneto
(Gregório de Matos)
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro ou que desminto,
Dentro do coração é que o sustento
Com que, para penar é sentimento;
Para não se entender, é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros:
Da tempestade é o estrondo efeito;
Lá tem ecos a Terra, o Mar, suspiros.
Mas oh, do meu segredo alto conceito!
Pois não chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro do peito.
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